• Dados de março e abril foram revisados para baixo, mostrando um quadro pior que o inicialmente estimado pela autoridade monetária
Gabriela Valente – O Globo
BRASÍLIA - Depois de dois meses de retração, a economia brasileira ficou estagnada em maio. Nos cálculos do Banco Central, houve apenas um leve crescimento da atividade de 0,03% no mês: abaixo da expectativa dos analistas do mercado financeiro de alta de 0,1% do IBC-BR, o índice de crescimento do país feito pela autoridade monetária.
Os dados do BC mostram que, nos cinco primeiros meses, a economia brasileira encolheu nada menos que 2,64%. Os técnicos do governo revisaram dados e mostram que a recessão foi maior que percebida num primeiro momento pelo BC.
Segundo os dados da autarquia, a retração da economia em abril não foi de 0,84%, mas de 0,88%. Em março, a atividade econômica caiu 1,53%. No mês passado, o BC já havia revisado o dado para retração de 1,51%. O primeiro dado divulgado pelo Banco Central era de que a queda foi de 1,07%.
Depois dessas revisões, o BC chegou a conclusão que a economia parou de retrair e ficou estagnada em maio. Os dados divulgados na manhã desta sexta-feira refletem uma recuperação pontual da indústria, mas dados frustrantes do comércio.
Na quarta-feira, o IBGE divulgou Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) que mostrou que o volume de vendas caiu 0,9% em maio frente a abril. Foi o quarto mês seguido de queda e o pior resultado para maio desde 2001. No ano, as vendas do comércio varejista registram queda de 2%.
Já a produção industrial subiu 0,6% entre abril e maio e quebrou uma sequência de três quedas consecutivas. O resultado foi melhor que as projeções, já que os economistas apostavam em retração. No entanto, o IGBE avisou que o resultado não muda o cenário de retração da indústria. Na comparação com maio de 2014, a produção caiu 8,8%. No ano, a queda é de 6,9%.
Recessão de 2015
A previsão tanto de analistas do mercado financeiro, quanto do governo é que o país comece uma recuperação daqui para frente. No entanto, ninguém acredita que, no fim das contas, o Brasil crescerá em 2015.
A aposta do BC — que consta no último relatório de inflação, divulgado em junho — é que a retração será de 1,1% neste ano. Já o Ministério da Fazenda é mais realista. No último documento oficial, previu uma queda de 1,5% da atividade econômica em 2015.
Para o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, os números divulgados nesta sexta-feira pelo BC não alteram a previsão de recessão econômica neste ano. Ele aposta em dados ruins para o segundo trimestre.
“A despeito da alta na margem, o resultado de maio não altera nossa expectativa de retração de 1,3% do PIB no segundo trimestre”, disse em comunicado aos clientes, publicado instantes depois que o BC divulgou seu índice.
Diferenças na metodologia
O “PIB do BC” serve como um indicador antecedente do comportamento da economia. É o que os economistas chamam de proxy. Ele é bem mais simples e calculado de forma mais rápida que o dado oficial do IBGE.
Tanto o IBC-Br quanto o Produto Interno Bruto (PIB) são indicadores que medem a atividade econômica, mas têm diferenças na metodologia. O IBC-Br foi criado pelo Banco Central para ser uma referência do comportamento da atividade econômica que sirva para orientar a política de controle da inflação pelo Comitê de Política Monetária (Copom), uma vez que o dado oficial do PIB é divulgado pelo IBGE com defasagem em torno de três meses.
O indicador do BC leva em conta trajetória de variáveis consideradas como bons indicadores para o desempenho dos setores da economia (indústria, agropecuária e serviços).
Já o PIB é calculado pelo IBGE a partir da soma dos bens e serviços produzidos na economia. Pelo lado da produção, considera-se a agropecuária, a indústria, os serviços, além dos impostos. Já pelo lado da demanda, são computados dados do consumo das famílias, consumo do governo e investimentos, além de exportações e importações.
Economistas apontam, no entanto, que o IBC-Br indica a tendência da atividade econômica, o que ajuda a dar uma avaliação geral do PIB.
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