Andrea Jubé, Raphael Di Cunto e Thiago Resende – Valor Econômico
BRASÍLIA - Após um embate de forças com a base governista em torno da redução da maioridade penal, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusou o governo de assumir a pauta do PT, que definiu como a agenda de "9% da população". Cunha cobrou do vice-presidente Michel Temer, que é presidente nacional do PMDB, a devolução do cargo de articulador político ao Palácio do Planalto depois de aprovado o ajuste fiscal. Em reação imediata de aval a Temer, a Casa Civil divulgou nota oficial elogiando a atuação do vice-presidente.
"O Michel [Temer] está sendo claramente sabotado por parte do PT", alfinetou Cunha. "Do jeito que está, deveria deixar a articulação política", recomendou, alegando que a situação não faz bem nem para o PMDB e nem para o governo.
Cunha tornou pública uma insatisfação que se alastra entre pemedebistas, que não escondem o desconforto com Temer na coordenação política. A função impõe desgastes quase diários ao governo - e por consequência, ao PMDB - por causa da relação conturbada do Planalto com o Congresso Nacional. Apesar dos esforços de Temer, a base aliada está descontente, em especial, pela retenção das emendas parlamentares. Os pemedebistas também receiam que a alta desaprovação ao governo contamine o partido, com reflexos nas urnas.
"O PT está na pauta dos 9% da população", ironizou Cunha, em alusão à baixa aprovação do governo revelada pela pesquisa CNI/Ibope divulgada na quarta-feira. As críticas de Cunha ocorreram um dia após o governo se mobilizar para derrotar a emenda constitucional que reduziu a maioridade penal de 18 para 16 anos. O Planalto pressionou deputados a ausentarem-se da nova sessão convocada por Cunha para reapreciar a matéria, mas o presidente da Casa acabou vitorioso na segunda votação. O resultado foi interpretado como derrota do Planalto, já que Dilma posicionou-se contra a redução da maioridade penal.
Mas o Planalto, contudo, não quer ouvir falar do afastamento de Temer da articulação. Apesar das duas derrotas pontuais - o reajuste dos servidores do Poder Judiciário aprovado pelo Senado e a redução da maioridade penal na Câmara -, auxiliares de Dilma reconhecem que melhorou o relacionamento do governo com os parlamentares e Temer acumula vitórias na votação dos projetos relativos ao ajuste fiscal. A negociação dos cargos no segundo e terceiro escalão também deslanchou.
Na semana passada, o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, já havia elogiado a autuação de Temer na presença do presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), um dos caciques do PMDB. Ontem ele voltou à carga divulgando uma nota oficial para reafirmar o mérito de Temer. Há cerca de um mês, Mercadante foi a público negar que havia feito movimentos para enfraquecer a atuação de Temer no cargo.
Segundo o comunicado da Casa Civil, a presença de Temer na articulação política "representa não apenas um gesto de desprendimento e sacrifício pessoal, como vem trazendo grandes resultados na relação com o Congresso Nacional". A nota observa que "as principais medidas do ajuste fiscal já foram aprovadas" e logo será concluída no Senado a votação do projeto sobre a desoneração da folha de pagamento. Mercadante também ressalta que Temer conduzirá as negociações sobre o reajuste do Judiciário, já que nos termos em que foi aprovado, causa rombo de R$ 25 bilhões aos cofres públicos. "Com a competente coordenação política do vice-presidente, chegaremos a um acordo com os servidores do Judiciário", chancela.
Em sintonia com o Palácio, o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), minimizou as críticas de Cunha e reforçou a parceria com Temer. "Vamos continuar fazendo essa parceria para o bem da república e para o bem do Congresso", anunciou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário