Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - O discurso da unidade deve dar o tom da convenção nacional do PSDB, a ser realizada neste domingo, mas na prática foi dada a largada da corrida à indicação do partido à Presidência da República, nas eleições de 2018. Muito embora seja o tucano que esteve mais perto de tirar o PT do governo, desde a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, o senador Aécio Neves já não é mais visto como candidato natural e sofre a concorrência do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.
Na convenção de domingo, os tucanos devem eleger uma nova direção partidária. A atual correlação de forças deve ser mantida. O que tem de novo é a indicação do deputado Silvio Torres (SP) para a secretaria-geral, o segundo cargo em importância na hierarquia partidária, no lugar do também paulista Antonio Carlos Mendes Thame. Ou seja, sai um deputado ligado a Geraldo Alckmin, e entra outro ainda mais próximo e aliado fiel do governador de São Paulo.
A nova cúpula do PSDB é resultado de um entendimento entre seus principais líderes, inclusive entre Alckmin e Aécio. Não é do interesse de nenhum dos dois precipitar a disputa pela indicação, sobretudo quando a crise e o enfraquecimento do governo da presidente Dilma Rousseff exige a atenção e a energia do partido. O que não impede que comece a demarcação dos territórios: Torres entra para evitar que Aécio continue a usar 100% da máquina partidária em benefício de sua candidatura em 2018. O governador quer dividir espaços.
Há dois anos, quando deixou o atual senador José Serra para trás e se impôs no PSDB como o candidato ao Palácio do Planalto, Aécio nem queria presidir o partido, preferia indicar algum nome de seu grupo político. O então presidente Sérgio Guerra, morto ano passado, o convenceu do contrário com o argumento de que junto com a presidência ele ganhava um palanque para sustentar sua pré-candidatura até a abertura oficial da propaganda partidária. Aécio fez então o uso que julgou necessário para alavancar sua candidatura. Agora, com a pré-candidatura de Alckmin também colocada, o PSDB de São Paulo quer que esse uso seja o menor possível.
Aécio será reconduzido para mais um mandato na presidência do PSDB, sem maior dificuldade, e manterá o deputado Rodrigo de Castro (MG) como tesoureiro do partido. Na prática esse cargo pode ser considerado hoje o segundo mais importante do partido, graças a mudanças feitas nos últimos anos para esvaziar a secretaria-geral. Castro é homem de confiança de Aécio e despacha diretamente com o presidente do PSDB os assuntos financeiros do partido.
No PSDB de São Paulo é voz corrente que Alckmin será o candidato da sigla em 2018. E que o governador e o senador José Serra, outro pretendente, apostam no esvaziamento do senador mineiro. Nos bastidores o desempenho de Aécio, no pior momento do governo Dilma, é questionado. A última pesquisa Datafolha registrou 35% de intenções de voto para Aécio, cujo recall é recente - ele mal saiu da eleição de 2014. Pouco, pois no segundo mandato do presidente Lula, no auge de sua popularidade, José Serra trafegou entre os 45% e 50%, pelo menos até abril de 2010. A derrota de Aécio em Minas também pesa entre os paulistas contra sua nova candidatura.
O entendimento dos tucanos mineiros, porém, é outro. No momento, defendem que Aécio se encarregue dos assuntos nacionais e da crise que envolve o governo do PT, como convém ao presidente do partido e pré-candidato, e que Alckmin deve se voltar inteiramente para o governo de São Paulo. Não ficaria bem para o governador do Estado, com apenas seis meses de um novo mandato, começar a falar em eleição presidencial.
Na realidade, o fantasma da divisão volta a ser desenhado no futuro tucano. Além de Aécio e Alckmin, é certo que Serra também não desistiu do sonho de ser presidente. Uma frase do deputado Marcus Pestana (PSDB-MG) resume bem o sentimento tucano: "Estamos com a mão na taça. Só não podemos fazer besteira".
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