• Apesar de integrarem a base aliada, legendas mantêm relação com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, desafeto do governo
Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - O governo está de olho no comportamento de três partidos que, apesar de integrarem sua base aliada, mantêm íntima relação com o maior desafeto do Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Se diante das câmeras o tom é de diplomacia em relação ao comportamento de PSD, PP e PR, nos bastidores a cobrança do governo é por uma definição sobre de qual lado estão. A escolha deve ser reforçada com a reforma administrativa posta em curso pelo governo, que colocou os ministérios controlados por essas siglas como alvos do reordenamento da base aliada.
Isso porque a fidelidade dessas legendas, que juntas têm 107 deputados, 13 senadores e quatro ministérios, caiu nos últimos quatro anos. Nenhum dos três partidos apresentou fidelidade ao governo superior a 90% na média das votações realizadas até agosto, segundo o Basômetro, ferramenta online do Estadão Dados que mede o governismo de partidos e parlamentares.
Na comparação com o primeiro ano de mandato da presidente Dilma Rousseff, o apoio desses partidos caiu. O PP, em 2011, apoiou o governo em 93% das indicações, índice que caiu para 53% neste ano. Já o PR, há quatro anos, apoiava o Planalto em 90% das votações. Neste ano, em 74%. O PSD ainda não existia na estreia de Dilma no Planalto, mas em 2015 sua taxa de apoio é de 65%.
No desenho inicial, cogita-se, por exemplo, extinguir a Secretaria da Micro e Pequena Empresa (PSD). O PR pode perder para o PMDB o comando do bilionário Ministério dos Transportes, que pode abrigar sob seu guarda-chuva as secretarias de Portos e Aviação Civil, ambas sob gestão peemedebista. Também não se descarta a integração de outro poderoso ministério, o da Integração Nacional, hoje comandando pelo PP, com o também forte Ministério das Cidades (PSD).
O governo contou com a maior parte das bancadas dos três partidos em votações importantes, como a das medidas provisórias do ajuste fiscal, mas levou uma rasteira no início do mês, quando as três legendas votaram praticamente fechadas a favor da proposta de emenda à Constituição que reajusta salários de várias carreiras, gerando impacto de R$ 2,45 bilhões aos cofres da União.
Dois dias antes da votação, após participar de jantar no Palácio da Alvorada com Dilma, os três líderes, Maurício Quintella (PR-AL), Eduardo da Fonte (PP-PE) e Rogério Rosso (PSD-DF) encontraram-se com Cunha em sua residência oficial para um convescote. Na avaliação de um deputado do PR, é “fundamental” que o partido tenha uma boa relação com Cunha. Dos três partidos, apenas o PP apoiou o peemedebista na disputa pela presidência da Câmara. “Somos base governista, mas o PR se dá o direito de ser crítico, com suas próprias bandeiras”, afirma Quintella. “Mas em política, tem um belo dia em que é preciso decidir para que lado pende”, diz um interlocutor do Planalto sob anonimato.
Governabilidade. Fonte não esconde a satisfação com a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e a primeira vice-presidência da Câmara nas mãos do PP. Ele e Rosso dizem que a boa relação com Planalto e Câmara os credencia a fazer a ponte para garantir a governabilidade. “Trabalho numa conciliação entre as partes”, diz Rosso. “Buscamos uma pauta de consenso”, diz o líder do PP.
Já o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), afirma que sua única exigência é fidelidade. “Tudo mais, cada um tem liberdade para se reunir com quem quiser.”
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