• Dilma teria dito que indicações das bancadas para 2º escalão ‘não batiam’ com as que chegavam a ela
Júnia Gama - O Globo
BRASÍLIA - Nas últimas duas semanas, a presidente Dilma tomou para si a negociação das nomeações de indicados políticos para cargos no governo, com o objetivo de restaurar a base aliada. E, segundo relataram ao GLOBO políticos que negociam diretamente com o Planalto indicações para o segundo escalão, o governo detectou uma possível sabotagem nas negociações anteriores da articulação política, com trocas nos nomes de indicados pelas bancadas.
O alerta no Planalto surgiu de uma conjunção de fatores. Mesmo com sinal verde para que os articuladores atendessem as demandas, as indicações não saíam e as bancadas continuavam a se queixar. Deputados que estão negociando cargos afirmam que surgiram especulações de que o ministro Eliseu Padilha (Aviação Civil) estaria privilegiando seus aliados na articulação e, assim, contribuindo para que a base se mantivesse insatisfeita.
O ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) seria outro foco de dificuldade para a efetivação das nomeações. Segundo parlamentares da base, isso ocorreu porque Mercadante estaria em guerra interna contra Padilha pela manutenção de sua esfera de influência no governo. Peemedebistas apontam que Mercadante tentou “boicotar” ações atribuídas a Temer. E pressões de alas que disputam poder dentro do PT junto a Mercadante ajudaram a complicar o processo.
Um dos exemplos dessa troca de indicações ocorreu há cerca de 10 dias, quando Dilma convidou o líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), para uma conversa no Planalto, em que pediu que o deputado apresentasse as demandas da bancada. Dilma teria dito que os pedidos “não batiam” com o que estava chegando a ela.
Na lista de “trocas” são citados exemplos como o do senador Otto Alencar (PSD-BA), que teve uma indicação sua substituída por outra do deputado José Rocha (PR-BA), e de uma indicação de deputados do PMDB para a Caixa Econômica, que teria sido trocada por outro nome ao chegar ao gabinete da articulação.
Dilma encarregou seu assessor especial Giles Azevedo para tratar diretamente as indicações. Ele já esteve com representantes do PMDB, do PP, do PTB e de alguns partidos menores. Os deputados esperam que as nomeações comecem a ser efetivadas.
— O Giles não é o novo articulador político. Ele é o olho da presidente, é a pessoa de sua mais extrema confiança, como se fosse ela lá. Dilma viu que a história não estava chegando a ela como realmente era e resolveu agir. Se as coisas não andarem com Giles, aí não tem como culpar mais ninguém — diz um parlamentar.
Padilha negou que ele ou Temer tenham atuado para impedir qualquer nomeação:
— Repudio, veementemente, as irresponsáveis insinuações de que Michel Temer e eu obstaculizamos nomeações, em razão de disputas com outros articuladores. Os trapalhões que criaram ou propagaram tal boato trabalham contra a estabilidade política do governo e zombam da inteligência dos parlamentares.
A reportagem não localizou Mercadante.
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