Por Raymundo Costa – Valor Econômico
BRASÍLIA - Acuado pelo petrolão, o impeachment e os índices recordes de reprovação da presidente Dilma Rousseff, o PT dá a largada na campanha eleitoral neste fim de semana, em Brasília, em reunião ampliada do Diretório Nacional marcada para este fim de semana, num imponente centro de convenções da cidade. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou presença. A participação de Dilma, no entanto, está sendo negociada. A presidente e seu partido não tocam pela mesma partitura, quando o assunto é a economia e o "Fora Levy" apoiado por setores do PT.
Desde 1988 o PT cresce a cada eleição municipal, movimento que se tornou mais acelerado partir de 2004, depois de que o partido subiu a rampa do Palácio do Planalto, um ano antes. Consequentemente, o partido também registrou aumento de sua bancada nas eleições proporcionais. "Há uma relação muito próxima entre as eleições de prefeito e as eleições para a Câmara", diz o cientista político Cristiano Noronha, da consultora Arko Advice.
Nem mesmo o escândalo da compra de votos no Congresso conhecido como mensalão, tornado público em 2005, foi suficiente para conter o avanço petista (veja o gráfico ao lado). Além do mensalão, petrolão, a prisão de dirigentes do partido, a partir de 2013, e a longa estiagem de apoio popular que atravessa o governo federal, o PT enfrentará na campanha uma crise econômica que pode chamar de sua e que deve se estender ao longo de 2016.
O PT ainda não teve que responder por uma crise econômica em eleições. O mais próximo disso ocorreu na eleição presidencial, na qual a presidente Dilma entrou com índices razoáveis de popularidade, mas não o bastante para impedir uma queda de quase 20% (de 86 para 69) da bancada de deputados. Ou seja, o partido sobreviveu aos desvios éticos de alguns dirigentes, até cresceu, mas agora precisa se virar com temas como a carestia e o desemprego.
Uma conversa com parlamentares e dirigentes do PT deixa claro que trabalho é hoje a maior preocupação do partido em relação a 2016. Eles temem que o desemprego chegue aos dois dígitos e bata nos 12%, um número cabalístico para o PT, pois este foi o índice que Lula recebeu do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em 2003. Não é por outro motivo que o ex-presidente Lula e o presidente do PT, Rui Falcão, têm procurado fazer distinção entre o partido e o governo, especialmente em relação ao ajuste. Ambos fazem um gesto para a base social do PT.
"Nossa prioridade é manter as prefeituras que já temos, ampliar se possível e concentrar esforços nas cidades com mais de 100 mil eleitores e naquelas que são retransmissoras do horário eleitoral", diz Rui Falcão. O presidente petista, ao contrário de Noronha, não vê "vínculo necessário entre eleição municipal e eleição nacional, tanto que nós temos menos prefeituras que o PMDB, mas estamos governando o país há quatro mandatos".
"Nós não concordamos com a avaliação de que o PT será dizimado, mesmo porque eleição municipal são cinco mil e tantas pequenas batalhas antes da grande guerra de 2018", diz Falcão. Já o secretário de Organização do PT, Florisvaldo Souza, encarregado de monitorar o desempenho do partido no país, é simplesmente "muito cedo para esses prognósticos catastrofistas que estão fazendo".
Falcão diz que nem tudo é má notícia em 2015. Neste ano, por exemplo, foram realizadas 15 eleições suplementares, o PT disputou quatro e venceu em três cidades - Presidente Tancredo Neves (BA), Natividade (RJ) e Igarapé-Miri (PA), também conhecida como "a capital mundial do açaí", como faz questão de frisar Falcão. Além disso, o partido contabilizou 70 mil novas filiações em 2015, apesar de todo o noticiário negativo em torno da legenda. Até o fim de março perdeu 14 prefeitos em São Paulo, dois no Rio, quatro no Paraná e dois no Mato Grosso. Mas pelo menos 60 outros migraram para o PT. O número total está sendo contabilizado, segundo Florisvaldo.
Um diagnóstico interno intitulado "Situação do PT a 14 meses da eleição" risca uma linha divisória nas eleições de 2000, que marcam "uma significativa mudança no processo de ampliação da presença institucional do PT". Entre as décadas de 1980 e 1990, mais da metade das prefeituras administradas pelo partido estava em apenas três Estados - São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Só depois de 2014 o PT passou a vencer eleições em todo o país. "Nas eleições de 2012, apenas o PT e o PMDB conseguiram vencer eleições em todos os Estados", atesta o diagnóstico.
Das três cidades em que venceu eleições suplementares realizados este ano, apenas a "capital mundial do açaí", tem mais de 50 mil habitantes. Já na última eleição para prefeito, em 2012, o PT registrou uma queda do número de prefeitos eleitos para cidades acima de 150 mil eleitores, 23 ante 35 eleitos em 2008. Os dirigentes petistas não aceitam a tese segundo a qual o PT está se transformando num partido dos grotões, como foram a Arena, o PFL e ainda é o PMDB. Mas é expressivo seu crescimento de até 10 mil eleitores e entre 10 mil e 50 mil votantes registrados.
O cientista político Cristiano Noronha chama a atenção para o desafio do PT nas grandes cidades, onde são mais sentidos os efeitos de recessão como o desemprego. "Por isso o partido está tão preocupado com a decisão do relator do Orçamento, deputado Ricardo Barros, de cortar recursos para o programa Bolsa Família", diz Noronha. É o que explica também o discurso cada vez mais crítico às medidas de ajuste fiscal do ministro Levy.
O PT foi o partido mais votado das eleições de 2012, com 17,8 milhões de votos em todo o país, a maioria dos quais obtidos na cidade de São Paulo, onde governa com o prefeito Fernando Haddad, candidato à reeleição. São Paulo e exemplo das dificuldades do PT em 2016.
Nas pesquisas, Haddad aparece bem atrás dos oponentes. Seus índices de reprovação antecedem a ruína do PT na cidade. Mas bem ou mal o PT tem um eleitorado fiel em São Paulo e é a único caminho viável para o prefeito, Sua principal adversária deve ser a senadora Marta Suplicy, pelo PMDB, cuja eleição em 2002, para o mesmo cargo, é um dos símbolos do avanço petista em eleições municipais. "O Haddad é um prefeito que está fazendo de São Paulo uma cidade mais humana, onde as pessoas têm espaço para se relacionar, saiu na frente nessa coisa da mobilidade", diz o secretário Florisvaldo. Se tiver razão, o PT mais outra vez terá mostrado resistência para sobreviver à adversidade.
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