- Folha de S. Paulo
Antes do tsunami, o mar recua e dá a impressão de calmaria. Na semana passada, divisamos a marcha acelerada da erradicação de postos de trabalho, vimos o Banco Central capitular diante da inflação e assistimos a uma nova opereta sobre o fracasso da tentativa de encabrestar a dívida estatal.
Indicadores financeiros e políticos, contudo, mal se mexeram. Resignaram-se ao fato consumado da impotência. Mergulharam, os seres de Brasília, no cinismo das brigas por migalhas de poder e das negociatas para manter ligados os aparelhos de gente condenada. Negam-se a reconhecer o sismo que, no fundo do oceano, libertou energias diluvianas.
O desastre pode ser pedagógico. Depois dele, os sobreviventes, como cobaias de experimento, tendem a recusar caminhos que causem dor. O ser humano, porém, é também capaz de imaginar os efeitos indesejáveis de certas tendências e de antecipar-se para evitá-los ou mitigá-los. Não precisa sofrer para aprender.
A esta altura dos acontecimentos, já deveria estar claro para as nossas cínicas lideranças políticas que:
1. O conjunto das empresas não vai contratar nem investir enquanto não houver sinalização firme de estabilidade no endividamento público. A manutenção do "statu quo" produzirá mais desemprego, inflação e indexação de contratos e salários;
2. A resposta para interromper o ciclo depressivo, um programa de redução duradoura de despesas públicas e elevação emergencial de impostos, está toda nas mãos dos políticos;
3. O consórcio para evitar o impeachment, ora em vigor, é incompatível com a coalizão necessária para enfrentar a agenda legislativa de reanimação econômica;
4. O acordo tácito para manter Eduardo Cunha no cargo, em meio ao ativismo das instituições encarregadas de combater o abuso de poder, desmoraliza o Legislativo e reforça sua inabilitação para a tarefa de encaminhar medidas anticrise.
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