Em entrevista à CNN, a presidente Dilma disse que é preciso cuidado ao discutir o impeachment porque a democracia brasileira ainda é “adolescente”.
Dilma: falar de impeachment é risco
• Presidente diz à CNN que democracia é frágil, e tema de sua saída, perigoso
Henrique Gomes Batista - O Globo
-WASHINGTON- A presidente Dilma Rousseff disse em uma entrevista à rede americana CNN que não há motivação para o pedido de seu impeachment e afirmou que é muito perigoso tratar desses temas, pois a democracia brasileira é frágil. A entrevista de cinco minutos, que foi ao ar ontem, foi concedida no dia 25 de setembro em Nova York — quando Dilma estava na cidade americana para a Assembleia Geral da ONU — ao jornalista Fareed Zakaria, que comanda o programa “GPS”.
— O grande problema com aqueles que querem o meu impeachment é a falta de motivação — disse Dilma, respondendo a uma pergunta sobre o risco de perder o mandato por causa dos problemas de corrupção na Petrobras. — Nós temos que ter muito cuidado sobre isso pelo seguinte motivo: a nossa democracia ainda está na adolescência.
Dilma voltou a afirmar ainda que seu governo é que está dando todas as condições para as investigações sobre os casos de corrupção. A presidente disse que, na verdade, o que há no Brasil é uma disputa política que não se encerrou após as eleições do ano passado. Argumentou que as eleições de 2014 foram “muito conflituosas”.
Na breve entrevista, Zakaria também questionou Dilma sobre os problemas econômicos do país, dizendo que o Brasil tinha perdido “uma oportunidade de ouro”, ao não fazer as reformas estruturais quando o Brasil crescia forte, impulsionado pelas exportações para a China. Dilma rebateu, disse que muito foi feito e que “nos últimos 10 ou 12 anos” o Brasil tirou 36 milhões de pessoas da extrema pobreza e se transformou em um país de classe média. A presidente afirmou que o Brasil avança na reforma da Previdência e no ajuste fiscal. O apresentador também fez perguntas a Dilma sobre seu passado de lutas contra a ditadura e lembrou sua prisão, e a presidente reforçou a importância da democracia no Brasil.
O “GPS”, de Fareed Zakaria, é um dos programas mais prestigiados da CNN. Na edição de ontem, além de Dilma, houve entrevistas com Paul Wolfowitz, um dos estrategistas do Iraque, Tony Blair, ex-primeiro-ministro britânico, e Ben Bernanke, expresidente do FED (banco central dos EUA).
A entrevista de Dilma Rousseff ocorreu em uma semana complicada para a presidente. Ela foi aos Estados Unidos sem concluir sua reforma ministerial e com muita dificuldade de negociação de apoio com o principal parceiro do PT no governo, o PMDB. Dilma também estava a menos de um mês sofrendo o ataque da oposição por causa do rebaixamento da nota de crédito do Brasil. No começo de setembro a agência S&P havia classificado o Brasil como mau pagador. Dilma, por outro lado, ainda não tinha a avaliação final do Tribunal de Contas da União (TCU), que rejeitou as contas da presidente de 2014, por causa das chamadas “pedaladas fiscais”, e que pode ser a base de um pedido de impeachment. Dois dias após a concessão dessa entrevista, a presidente anunciou na ONU as metas do Brasil para redução de emissão de gases-estufa que serão alvo de negociação em Paris no fim de novembro.
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