- O Estado de S. Paulo
Consciente de que o PT provavelmente não fará para o cafezinho na eleição municipal e preocupado com sua periclitante situação pessoal, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva iniciou a campanha de 2016 com o propósito de evitar que os adversários lancem mão de seu espaço. Faz do ataque sua arma de defesa e tenta transformar a adversidade em vantagem.
“Não temo ser preso”, declara. Falácia. Seria a pá de cal no enterro da imagem do operário que ascendeu à Presidência para mudar “tudo isso que está aí”, incluindo o excesso de corrupção e a falta de ética na política.
Informa que poderá, sim, ser candidato a presidente em 2018. Bravata. As contas abertas na polícia e Justiça, mais a crescente rejeição do eleitorado e a constatação de que se tornou um homem rico com origem da fortuna questionada o impedem de ter certeza sobre o dia de amanhã, o que dirá sobre onde e como estará daqui a mais de dois anos.
Mas Lula precisa falar, porque é o que resta ao PT: atacar a tudo e a todos, mas se fazer de vítima de tudo e de todos. Fora isso, o partido tentará concentrar o debate em temas locais a fim de que a crise nacional não contamine as disputas municipais. Missão quase impossível.
Entre outros e conhecidos motivos porque seus principais adversários, PMDB e PSDB, vão explorar exatamente os aspectos de maior desgaste para o PT. A base do discurso dos pemedebistas _ ressalte-se, nas capitais e grandes cidades – será o documento lançado recentemente pelo partido, “Ponte para o futuro”, com propostas para a retomada do crescimento econômico. O PMDB não quer apenas se mostrar pronto a assumir o governo em caso de impedimento de Dilma Rousseff, mas apresentar suas credenciais à disputa de 2018.
Já os tucanos, no oficial trabalham pelo impeachment e no paralelo preferem que a presidente e o PT fiquem se arrastando exatamente onde estão para que o PSDB possa dizer ao eleitorado: “Nós tínhamos razão”. Uma referência à última eleição presidencial na perspectiva de dar o troco na próxima.
Cabeça de excelências. Em 2016, como de resto em todas as campanhas eleitorais, os políticos vão procurar demonstrar zelo pela vida do cidadão e preocupação com a solução dos problemas em suas cidades. O previsível discurso, contudo, não corresponde à prática.
Uma consulta feita pela empresa Mosaico – de pesquisa e consultoria – a cerca de 200 dos 513 deputados dos dez maiores partidos com representação na Câmara atesta a indiferença de suas excelências em relação a temas essenciais no cotidiano dos brasileiros. Poucos, menos de 10%, consideraram prioritárias as reformas trabalhista, tributária e da Previdência.
A que menos interesse desperta é a mudança nas relações trabalhistas: apenas 5,9% dos parlamentares consideram-na urgente. A ampliação da idade mínima para aposentadoria obteve o grau de urgência por parte de 6,7% dos deputados consultados, enquanto 7,6% deles conferem prioridade à reforma tributária.
A mesma pesquisa aponta que 56% acham que o ajuste fiscal é essencial para a retomada do crescimento econômico e 70% apostam que a CPMF será rejeitada.
Um recorte na consulta aos deputados do PT mostra que 79% da bancada acredita na aprovação do imposto do cheque; 88% não considera o corte de gastos públicos fundamental para o reequilíbrio econômico; 92% dos petistas são favoráveis a medidas de incentivo ao consumo e 79% pedem redução da taxa de juros já.
Em miúdos, nada mais contrário à orientação do ministério da Fazenda que a opinião dos deputados do PT.
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