• Num regime presidencialista como o nosso, dificilmente haverá uma saída para a crise sem uma mudança de rumo no governo federal. Isso está mais do que claro para a sociedade
- Correio Braziliense
O Brasil não é para amadores, já dizia Tom Jobim. A situação atual corrobora bem a situação. Dilma Rousseff nunca foi política profissional, era um quadro da alta burocracia formada no caldo de cultura do castilhismo gaúcho, que aos poucos derivou do PDT para o PT, depois que Leonel Brizola foi ofuscado pela ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva, a partir da eleição de 1989.
Com o declínio do trabalhismo, Dilma optou pelo petismo, mas no fundo de tudo isso estava uma visão utilitarista do populismo. Ex-militante da Var-Palmares, organização de ultraesquerda que participou da luta armada e foi desbaratada pela repressão do regime militar, foi presa e torturada. Aguentou o tranco e não entregou os companheiros. Isso lhe deu uma aura heróica, mas não lhe deu a astúcia e a sagacidade dos políticos profissionais.
No poder, porém, Dilma mostrou que sabe e gosta de mandar. Fala grosso com os subordinados, da passadeira aos generais. Gostou da cadeira para a qual foi eleita com apoio de Lula e se impôs perante ele no primeiro mandato. O “Volta, Lula!” fracassou porque Dilma disse ao ex-chefe que era candidata à reeleição e pagou para ver. Lula teve de engolir.
Lula acreditava que Dilma seria presidente da República de um só mandato. Não foi outro o motivo da escolha de seu nome para sucedê-lo, em detrimento de outros petistas do primeiro time que provaram ser bons de votos, como atual ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, eleito duas vezes governador da Bahia e muito bem-sucedido na própria sucessão.
A imagem de grande gestora que serviu de eixo para as candidaturas – eleição e reeleição – provou-se um produto de marketing. No começo, parecia que Dilma entendia do riscado. Com a reeleição também parecia que ela realmente havia se consolidado como liderança política com projeto próprio, seja pelo fato de que se impôs aos adversários, seja pela forma como anulou a influência de Lula na cúpula do governo ao montar o ministério do segundo mandato.
Tudo parecia desmentir o chiste de Tom Jobim em relação a ela. Passado um ano da eleição, porém, o cenário é dramático. Os melhores economistas do país são capazes de fazer bons diagnósticos, apontar os erros do governo e oferecer algumas alternativas, mas não são capazes de construir uma saída para a crise. Essa é a tarefa dos políticos profissionais.
Dilma deveria liderar o debate para isso, mas não consegue construir essa saída, por causa de suas concepções voluntaristas e do sistema de alianças que a elegeu. Dar um cavalo de pau exigiria uma mudança no eixo de alianças, deslocando PT, e o abandono de velhas ideias que caducaram faz tempo, menos na cabeça de Dilma e seus estado-maior.
Beco sem saída
Num regime presidencialista como o nosso, dificilmente haverá uma saída para a crise sem uma mudança de rumo no governo federal. Isso está mais do que claro para a sociedade, mas essa não é a compreensão dos políticos que ainda apoiam Dilma Rousseff. A maioria sempre foi fisiológica e patrimonialista na proporção da fraqueza do governo. E flerta com o populismo petista. Diante disso, como fazer um ajuste fiscal e aprovar reformas estruturais para reduzir o tamanho do Estado à dimensão que a sociedade suporta? Esse é o beco sem saída.
Mas o Brasil, como já se disse, não é para amadores. Nosso populismo nem de longe se equipara ao peronismo argentino, que é quase religioso entre os “descamisados”, ou ao bolivarianismo venezuelano, cujo eixo é a formação de milícias com características cada vez mais fascistas. Não há no Brasil líderes como Peron e Chávez. Getulio Vargas somente virou mito após o suicídio, em 1954, embora gozasse de enorme prestígio popular. Frustrou, assim, os que pretendiam destituí-lo. Mas já não estava vivo para evitar o golpe de 1964.
O líder político cujo prestígio popular mais se aproximou de Getulio Vargas foi o ex-presidente Lula, que desbancou João Goulart e Leonel Brizola. Mas nem de longe deixou um legado político da envergadura da Era Vargas, seja do ponto de vista da organização do Estado, seja do das conquistas sociais.
Um dos efeitos colaterais da crise atual, que fez da presidente Dilma a mais impopular dos presidentes desde a redemocratização do país, é a “desconstrução” da imagem de Lula. O governo atual lançou o país na maior recessão desde a crise mundial de 1929 e, com isso, destrói o legado social do petista. Sem ele, a imagem de Lula é corroída a cada escândalo envolvendo seus parentes, empresários amigos e políticos aliados
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