- O Estado de S. Paulo
Ou jogaram diretamente, ou criaram as condições ou, no mínimo, fecharam os olhos quando um ou outro passou a tirar proveito da situação. Agora, não adianta por a culpa nos outros nem chorar sobre o leite derramado.
Em entrevista a Kennedy Alencar, do SBT, o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva recorreu a uma imagem familiar ao afiançar que não sabia de nadica de nada do que se passava na Petrobrás: “O que as pessoas têm que compreender é o seguinte: quantas coisas acontecem dentro da sua casa, com seus filhos, que você não sabe? Quantas vezes acontece?”
Pode-se supor que ele não sabia que os filhos criaram nada mais nada menos que 17 empresas a partir do momento em que subiu a rampa do Planalto e sentiu o gosto do poder. Empreendedores esses meninos! Luis Cláudio, o caçula, é dono da LFT, que sofreu busca e apreensão da Polícia Federal, e ele já passou pelo constrangimento de depor na PF para explicar negócios com uma empresa de lobby para lá de enrolada na Operação Zelotes.
Isso foi uma surpresa. Até então, o alvo da curiosidade geral era Fábio Luis, o “Ronaldinho” da Gamecorp, como reconheceu Lula na entrevista: “Você acompanha a vida do meu filho Fábio. Acompanha na internet: ele tem avião, ele tem a torre Eiffel, ele tem a Casa Branca, ele tem todos os bois da Friboi. Você não sabe a quantidade de desmentido que é feita todo santo dia”.
Nem José Dirceu, escaldado pela investigação, pelo julgamento e pela condenação no mensalão, escapou de meter a mãe e a família no meio. Lá está ele de novo enrolado, agora com a Lava Jato, tendo de explicar a dinheirama para a casa de uma, para o apartamento de outra. Um homem com uma história cinematográfica como ele...
O ex-diretor da Petrobrás Paulo Roberto Costa foi bem mais direto. Aproveitou-se da facilidade – falha de processos, fiscalização e responsabilização – , expandiu as tarefas para dentro de casa e transformou a família numa quadrilha com papéis bem definidos: a mulher era laranja das contas no exterior, as filhas fechavam os negócios com fornecedores da Petrobrás, os genros cuidavam da contabilidade. Agora, faz ares de arrependido.
Esse envolvimento familiar vale para o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que abria uma empresa aqui, fechava ali, mudava para lá, trocava o nome de cá, sempre com a família de alguma forma envolvida. Hoje, chora as pitangas porque mulher, filha e filho estão com o nome na praça. Quanto mais ele tenta explicar, mais se enrola. Primeiro, diz que não mentiu ao negar que tivesse contas, porque essas contas não eram dele, eram de empresas. Ah, bem! Depois, saiu-se com essa da carne enlatada para a África. Ah, bem!
Cunha saca essas histórias fantasiosas para se defender no Conselho de Ética da Câmara, ocupar espaço na mídia e empurrar o desfecho – com provável condenação – para o mais distante possível em 2016. Mas se esquece de que esse é só um dos seus problemas, e nem é o maior. O principal problema de Cunha é na Justiça, que, ao julgar pessoas, passa a julgar também famílias inteiras.
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