• Dilma saberia ‘de tudo’ sobre refinaria de Pasadena, segundo áudio
Eduardo Bresciani, Jailton de Carvalho - O Globo
-BRASÍLIA- O áudio que embasou a prisão do líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), sugere que o exdiretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró acusou a presidente Dilma Rousseff em sua delação premiada, ao afirmar que ela sabia do que se passava em relação à refinaria de Pasadena (EUA). A compra da refinaria gerou prejuízo bilionário para a estatal.
Cerveró firmou acordo com o Ministério Público semana passada, ainda não homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu Dilma.
Na reunião gravada por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor, Delcídio afirma ter visto uma versão da proposta de acordo de delação de Cerveró em uma conversa que teve com o dono do BTG Pactual, André Esteves. O banqueiro tinha em mãos uma minuta diferente da que o senador havia recebido na qual, em anotações manuscritas, haviam acusações à presidente.
— No tópico da Dilma, ele (Cerveró) complementa, então ele bota assim: “a Dilma sabia de todos os movimentos de Pasadena” — diz o senador.
Delcídio diz a Bernardo e ao advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, crer que a letra era do ex-diretor. Ele repete em outras duas ocasiões o que constaria nessas anotações em relação a Dilma.
— No caso da Dilma, ele (Cerveró) diz: “a Dilma sabia de tudo de Pasadena, ela me cobrava diretamente, fiz várias reuniões” — afirma Delcídio.
— Ele (Cerveró) fala da Dilma dizendo que a Dilma acompanhou tudo de perto — reitera o senador.
Cerveró foi diretor da área Internacional da Petrobras até 2008. Depois, foi para a diretoria financeira da BR Distribuidora. Seu nome ganhou destaque quando, em março de 2014, Dilma o acusou de ter feito parecer “técnico e juridicamente falho” para embasar a compra da refinaria. Assim, ela justificou seu voto a favor da compra.
As menções a Dilma no áudio são feitas enquanto o senador e as demais pessoas reunidas especulam de quem seriam as anotações no rascunho da delação que Esteves possuía. Eles concluíram que a letra seria de Cerveró e que o papel poderia ter sido “roubado” na carceragem da Polícia Federal, onde o ex-diretor estava preso.
Cardozo diz que Dilma não sabia
O governo não comentou os trechos da gravação sobre Dilma, mas o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, reagiu às acusações. Segundo ele, todos os elementos disponíveis confirmam a omissão de informações em documentos que levaram os conselheiros da Petrobras, entre eles Dilma, a aprovar a compra de Pasadena. O ministro disse desconhecer o conteúdo da delação do ex-diretor e não sabe se as declarações atribuídas a ele são verdadeiras:
— Se alguém disse isso (que Dilma sabia que a compra de Pasadena seria prejudicial), disse com má intenção e responderá na forma da lei — afirmou.
No áudio, o senador também menciona Cardozo. Delcídio afirma que já tinha conversado com o ministro da Justiça sobre o habeas corpus em tramitação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) que poderia beneficiar Cerveró. O senador afirma que conversou com Cardozo e que o ministro Marcelo Ribeiro Dantas levaria a decisão para uma das turmas daquela Corte. Delcídio diz que “na turma vai sair”.
Cardozo disse ontem não se lembrar se conversou com Delcídio sobre decisões da Justiça relativas à Lava-Jato:
— Converso diariamente sobre questões jurídicas com parlamentares, respondo a várias questões. Mas não me lembro de ter nenhuma conversa com o senador Delcídio sobre esse assunto. (Colaborou Simone Iglesias)
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