• Troca de Levy por Meirelles empareda de vez a presidente
- Valor Econômico
O ex-presidente Lula disse a amigos que não fará mais tanta pressão para a presidente Dilma Rousseff trocar de ministro da Fazenda. Vai deixar de falar ao pé do ouvido e dizer de público o que pensa. Lula não quer se indispor com Levy, com quem acha que tem divergências apenas eventuais. Em suas palavras, não quer fazer "uma cruzada contra o Levy". E o ouvido de Dilma, por outro lado, está quente de tanto ouvir os seus argumentos em favor de Henrique Meirelles.
Lula e Dilma tiveram uma longa conversa sobre economia há menos de 15 dias. Nem todos os ministros da Casa participaram da reunião, organizada por Jaques Wagner. Lula falou o que pensa da economia. E educadamente ouviu o que a presidente tinha a dizer - bem diferente dos relatos sobre conversas ocorridas no primeiro semestre. A relação entre os dois está melhor, contam os amigos em comum. O que chamou a atenção foi a ausência do ministro Joaquim Levy, aquele que Lula quer trocar por Henrique Meirelles.
Lula queria mover três peças no governo: tirar Aloizio Mercadante da Casa Civil, trocar Joaquim Levy por Henrique Meirelles na Fazenda e tirar José Eduardo Cardozo da Justiça. Conseguiu o primeiro objetivo, mantém a mesma opinião sobre Meirelles e mais do que nunca gostaria de ver Cardozo longe de Brasília. Na época, posou de vencedor. Agora deixou a conversa "desanimado". Diz que só falará em público, um perigo, pois é justamente quando desata a falar que Lula mais tem ajudado a minar a autoridade de Levy. Outro dia, um petista que defende a saída de Levy reagiu desconcertado quando um colega de partido resolveu brincar com ele: "Cuidado: Vocês podem gritar 'Fora Levy' e ganhar o Meirelles".
Lula não esperou muito tempo para declarar em público que a data de validade do ministro Levy está vencida. Dilma subiu o tom e respondeu que não era forçada a concordar com "avaliações" de pessoas das quais gosta imensamente. Levy que se cuide: Dias antes da demissão de Mercadante a presidente dizia que tirar o ministro da Casa Civil significaria gerar mais "instabilidade" no governo.
Levy vem sendo fritado há tempos. Segundo as fontes palacianas, primeiro foi Mercadante, então chefe da Casa Civil, que estimulava outros ministros a divergir do titular da Fazenda, assim como boicotou o vice-presidente Michel Temer quando este assumiu a coordenação política do governo. Mercadante saiu e agora os líderes no Congresso afirmam que a situação de Levy é insustentável. Tem mais alguém no Palácio do Planalto e arredores incomodado com o ministro.
A receita da fritura é a mesma de todos os governos: o ministro não teria o menor jogo de cintura político, se expôs numa conversa recente com senadores, sem avisar ou combinar nada com a área política do governo. Sua saída, nessas circunstâncias, seria questão de tempo. E por que Meirelles? Para recuperar a credibilidade do governo a partir da economia. É difícil medir a diferença. Numa tradução livre da piada petista: o 'Fora Levy, vive Meirelles!".
O ministro Jaques Wagner, que participou da reunião com Lula, afirma que está "alinhado" com a presidente - ou seja, Levy é um grande servidor público compromissado com o país. "Estou aqui para apoiá-la (a presidente) no que ela quiser", disse, por meio de sua assessoria. Wagner também disse que tem ajudado nas votações relacionadas à Fazenda e nega que tenha tomado partido do ministro Nelson Barbosa (Planejamento) em divergências entre as duas pastas. Alias, acha perfeitamente natural a discussão de projetos antes da tomada de decisão.
Pode ser. Wagner é um político jeitoso, cujos primeiros passos na Casa Civil têm sido elogiados no Congresso, onde habita sua clientela. Mas na prática o apoio do Congresso ao governo caiu, pouco mas caiu sobretudo devido às questões de natureza econômica. Sem uma saída para a questão econômica, dificilmente o governo voltará a ter a paz política de que necessita para retomar os projetos de desenvolvimento econômico.,
Com menos de 10% de popularidade, hoje pode-se dizer que Dilma é a chefe de Estado, mas já não é a chefe de governo. Há quem pense, no PT, em antecipar a votação da proposta de impeachment, por estar seguro de que tem pouco mais de 171 votos necessários para barrar o projeto. Talvez duzentos e alguns trocados. Um governo fraco politicamente. Dilma pode até escapar, mas sofrerá o "impeachment" de Estado, no momento em que Meirelles assumir a Fazenda, se assumir. Mas ao vencedores do PT terá restado mais que as batatas.
Análise de 13 votações realizadas em outubro revela que o apoio ao governo voltou a cair, após ligeira melhoria no semestre, segundo levantamento da empresa de consultoria política Arko Advice. Entre julho e setembro, a média de apoio na Câmara foi superior a 50% e apresentava tendência de alta. Em outubro, esse movimento foi interrompido, o índice ficou abaixo desse patamar e fechou o mês em 49,70%.
O analista Cristiano Noronha atribuiu a queda sobretudo à votação de matérias de natureza econômica. "A queda está relacionada ao número de matéria polêmicas que foram submetidas à votação como, por exemplo, repatriação, urgência para o projeto que revoga o regime de partilha nos leilões do pré-sal e medidas provisórias do ajuste fiscal", disse Noronha..
Na opinião da Arko Advice, essa é mais uma demonstração clara de que a reforma ministerial realizada pelo governo não contribuiu para melhorar "o nivel de coesão da base em matérias de interesse do governo". De qualquer forma, ressalta Noronha, "o percentual é bem maior do que a média de apoio verificada nos meses de março (38,34%) e abril (40,11%). Também é superior que a média que a presidente teve no primeiro mandato (45,24%)".
Sua conclusão: "Apesar da queda, o governo está conseguindo avançar - ainda que com dificuldade e de forma lenta - na agenda do ajuste fiscal".
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