• Ex-ministro diz que população começa a perceber conspiração feita por Temer e Cunha
Catarina Alencastro e Maria Lima - O Globo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff recebeu o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) em um jantar no Palácio da Alvorada, na noite de quinta-feira, no qual foi acertada a participação de Ciro na articulação para barrar o pedido de impeachment. No encontro, Ciro fez duras críticas ao vice-presidente Michel Temer, a quem já chamou de “capitão do golpe” e ao grupo do peemedebista na Câmara, que classificou de “máfia”. O movimento irritou o PMDB, inclusive no Senado, onde a presidente tem apoio.
Segundo aliados da presidente, Dilma deseja manter Ciro Gomes como interlocutor. O encontro foi articulado pelo governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, que lidera a batalha de Dilma para devolver a liderança do partido na Câmara ao deputado Leonardo Picciani (RJ). Além de Ciro e Pezão, estava no jantar o ministro Ricardo Berzoini, da secretaria de Governo.
“Voluntário contra o impeachment”
O encontro desagradou, sobretudo, ao líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), adversário de Ciro no Ceará. Diante de rumores de que Ciro seria um dos coordenadores contra o impeachment, Eunício reagiu:
— Sobre Ciro eu não falo. Só digo que jamais serei coordenado por esse cidadão ou por qualquer pessoa do seu grupo.
Ciro negou que terá qualquer papel de coordenação, e se considerou um voluntário no trabalho de impedimento de aprovação do impeachment.
— Estive no jantar do Alvorada para conversar com a presidente Dilma sobre a situação geral e lhe disse que eu seria um voluntário contra o impeachment. Vou lutar contra o golpe no limite das minhas forças, não importa se o Eunício ou qualquer pessoa gostem. Estamos discretamente virando o jogo. A população está aborrecida com toda razão, mas começa a perceber que quem está fazendo essa conspiração imunda é o senhor Michel Temer e o senhor Eduardo Cunha, parceiros de longa data, uma máfia — disse Ciro.
Na avaliação de um auxiliar próximo à Dilma, a situação do governo se deteriorou com a deflagração de uma guerra aberta dentro do PMDB, na qual os favoráveis ao impeachment somam cada vez mais adeptos. Ontem um aliado de Dilma dizia que só era possível contar com um terço do PMDB. Apesar do quadro, Dilma afirmou que sua conversa com o vice, na última quarta-feira, foi produtiva.
— Tivemos uma conversa pessoal e institucional, do meu ponto de vista, muito rica. E colocamos a importância de todos os nossos esforços em direção da melhoria da situação econômica e política do nosso país — afirmou.
Perguntada sobre o pedido de Temer para não se intrometer nos assuntos internos do PMDB, conforme publicado na edição de ontem do GLOBO, a presidente respondeu:
— Eu entendo que ele tenha considerações em relação ao PMDB, ele é presidente do partido. Então, o governo não tem o menor interesse em interferir nem no PT, nem no PMDB, nem no PR. Agora, o governo lutará contra o impeachment. São coisas completamente distintas — afirmou, referindose inicialmente a Temer como presidente e corrigindo-se em seguida.
Hoje, segundo senadores peemedebistas, a bancada do PMDB no Senado está dividida ao meio em relação ao apoio ao impeachment da presidente Dilma. Mas dizem que, se o quadro evoluir, a bancada irá em peso votar pelo afastamento.
“Base do pedido é do PSDB”
Ontem, Dilma disse não ter se surpreendido com a decisão do PSDB de aderir ao pedido de impeachment deflagrado pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha ( PMDB- RJ), porque, segundo ela, os tucanos sempre foram “a base” desse pedido. A presidente também comentou pela primeira vez a conversa reservada que teve na quartafeira com o vice-presidente Michel Temer e afirmou que seu governo não quer interferir no PMDB.
— A base do pedido e das propostas do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é o PSDB. Sempre foi. Ou alguém aqui desconhece esse fato? Porque, se não, fica uma coisa um pouco hipócrita da nossa parte nós fingirmos que não sabemos disso — disse Dilma em rápida entrevista após a cerimônia da 21ª edição do Prêmio Direitos Humanos.
A direção do PSDB rebateu, em nota, as declarações da presidente, dizendo que ela equivoca-se ao transferir ao partido a responsabilidade sobre o processo de impeachment: “Na base do impeachment não está um partido político, mas a voz de milhões de brasileiros”.
A adesão do PSDB ao impeachment, embora esperada, engrossa ainda mais o caldo pela deposição da presidente.
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