Marina Dias, Gustavo Uribe e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Apesar do discurso público de que não interfere nas questões internas do PMDB, o Palácio do Planalto ameaça retaliar deputados do partido com o corte de emendas e cargos caso eles não apoiem a volta de Leonardo Picciani (RJ) à liderança da sigla na Câmara dos Deputados.
Aliado da presidente Dilma Rousseff, Picciani foidestituído na quarta-feira (9), quando 35 dos 66 deputados do PMDB assinaram um documento pedindo sua saída do posto. O movimento contou, inclusive, com o apoio do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do vice-presidente Michel Temer.
Preocupado com a derrota no Congresso, o Planalto escalou ministros do PT e do PMDB para cobrar que os deputados peemedebistas continuem alinhados ao governo, o que irritou Temer.
Em conversa com a presidente Dilma na quarta, o vice pediu que o Planalto não interferisse nas disputas internas de seu partido mas, nesta sexta-feira (11), diante da forte atuação do governo, precisou telefonar para o ministro Jaques Wagner (Casa Civil) e pedir uma sinalização clara de que o movimento seria freado por Dilma Rousseff.
O ministro prometeu que frearia as ações e a presidente deu uma declaração pública para dizer que seu governo "não tem o menor interesse" em interferir no PMDB.
"Entendo que ele [Temer] tenha considerações em relação ao PMDB, ele é presidente do partido. Então o governo não tem o menor interesse em interferir nem no PT, nem no PMDB, nem no PR. Agora, o governo lutará contra o impeachment. São coisas completamente distintas", disse a presidente.
Nos bastidores, porém, o governo não baixou a guarda. Nas palavras de um auxiliar de Dilma, Temer manteve "sua postura conspiratória" ao dar o aval para a destituição de Picciani e, por isso, o Planalto "também vai lutar com as armas que tem".
Desde que Leonardo Quintão (MG) assumiu o lugar de Picciani à frente da liderança do PMDB na Câmara, os deputados do partido relatam terem sido procurados, inclusive, por líderes e vice-líderes do governo na Casa.
Segundo a Folha apurou, além dos colegas de plenário, ministros do PMDB, como Marcelo Castro (Saúde) e Kátia Abreu (Agricultura), têm telefonado para deputados do partido que apoiaram o abaixo-assinado contra Picciani e acenado com possíveis acordos ou retaliações.
Signatário do documento, o deputado Mauro Pereira (PMDB-RS) acusa o Planalto de ter atuado contra ele e retido cinco emendas parlamentares de sua autoria, no valor de R$ 4 milhões.
"Se o governo federal for utilizar esse método com todos os membros da bancada, será uma maneira muito baixa para reverter votos", criticou. "É muito rasteiro".
Temer também entrou em contato com o ministro da Saúde e com a ministra da Agricultura para pedir que eles interrompam a pressão sobre os deputados da sigla.
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