• Presidente se reuniu ontem com governador do Rio e ex-ministro que, no fim de semana, acusou Michel Temer de ser 'o capitão do golpe'; encontro foi considerado por peemedebistas como 'provocação'
Daiene Cardoso - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff, se reuniu ontem em um jantar com o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão (PMDB), e o ministro Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo). O encontro Palácio da Alvorada causou nova irritação entre os peemedebistas do Congresso.
Após a interferência do Palácio do Planalto na restituição do deputado Leonardo Picciani (RJ) na liderança da bancada peemedebista na Câmara dos Deputados, os aliados do vice-presidente Michel Temer dizem que ele não vai tolerar o novo episódio. Os peemedebistas consideram que o jantar foi uma "provocação". "Quem janta com Ciro Gomes pode pegar lepra política", alfinetou o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS).
No último domingo, Ciro acusou o vice-presidente da República de ser o "capitão do golpe" do processo de impeachment da petista. "Perguntem qual é a opinião do Michel Temer, vice-presidente da República, sobre o fato de seu companheiro, amigo, parceiro, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ter contas na Suíça, ser denunciado por crime de formação de quadrilha, de roubo do dinheiro público.
Ele não tem uma opinião. Por quê? Porque é íntimo parceiro. E não por acaso o beneficiário imediato dessa ruptura da democracia e dessa imensa e potencial crise para 20 anos é ele mesmo, o senhor Michel Temer, o capitão do golpe", atacou Gomes.
Já o governador fluminense é apontado como principal operador no partido do movimento contra o impeachment da presidente. Com a ajuda de Pezão, o Palácio do Planalto estaria se movimentando para que Picciani retornasse à liderança do PMDB na Câmara.
Citando trecho do funk "Beijinho no ombro", da funkeira Valeska Popozuda, um peemedebista avaliou que a aliança entre Dilma, Ciro e Pezão pode provocar um efeito explosivo no PMDB. "Depois que se divulgou Ciro, Dilma e Pezão juntos, agora é que a solução será guerra mesmo. Para Michel, isso é questão de honra", previu o deputado, para na sequência emendar: "Ou seja, será tiro, porrada e bomba".
Peemedebistas do Senado chegaram a dizer, reservadamente, que Dilma estaria cogitando colocar Ciro Gomes na articulação política da Casa. Aliado do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o senador Romero Jucá (PMDB-RR) se disse surpreso e indignado com a proposta. "O cara vive esculhambando o PMDB", disse ele, ao lembrar que Ciro é adversário político do líder peemedebista no Senado, Eunício Oliveira (CE). "Seria o Estado Eslâmico", ironizou.
Segundo fontes, Eunício - escalado junto com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-RJ), para ajudar Picciani - está enfurecido com o encontro. "A gratidão que ela demonstra é prestigiar o maior adversário dele (Eunício). Só se ele for besta de fortalecer ela agora", comentou o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
Insatisfeitos com os últimos acontecimentos, pelo menos 15 diretórios do partido já demonstraram disposição para pedir a antecipação da convenção do PMDB, marcada inicialmente para março de 2016. A cúpula aguarda apenas uma sinalização de Temer para pedir a realização, ainda neste mês, do encontro que pode oficializar o rompimento do PMDB com o governo.
Expulsão. Membros da Executiva do partido já falam em entrar com uma representação pedindo a expulsão do Picciani do partido por sua movimentação no sentido de atrair parlamentares de outras siglas. O objetivo seria retomar a maioria na Câmara e reverter a decisão da bancada que o substituiu por Leonardo Quintão (MG).
No entendimento dos aliados de Temer, a movimentação para "cooptar" deputados de outros partidos "está pegando muito mal no partido". "Isso não é papel que se faça", disse um deputado. "Uma coisa é ele reconquistar no mesmo grupo a liderança. Outra é querer ganhar na marra", condenou outro parlamentar.
Outra frente de retaliação ao comportamento de Picciani em curso é o isolamento do PMDB do Rio das decisões nacionais. Os caciques da legenda lembram que Pezão defendeu o ex-governador Sérgio Cabral como vice de Dilma no lugar de Temer. "Ninguém esquece isso. Todos na nacional tem um pé atrás com Pezão e companhia", resumiu um parlamentar.
Na avaliação dos peemedebistas alinhados com Temer, os dirigentes do PMDB do Rio cairão em desgraça com a defesa de Dilma, com as delações premiadas da Operação Lava Jato que podem comprometer Pezão e Cabral, e com a tentativa de lançar a candidatura à Prefeitura do Rio de Janeiro do secretário municipal de governo Pedro Paulo Carvalho, acusado de agredir a ex-mulher./ Colaboraram Ricardo Brito e Carla Araújo
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