Por Raquel Ulhôa – Valor Econômico
BRASÍLIA - O senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, e seus aliados têm clara preferência pela antecipação do término do governo Dilma Rousseff por meio do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em vez do afastamento dela por meio do impeachment aprovado no Legislativo. Os tucanos querem convencer o empresariado de que a cassação da presidente e do seu vice, Michel Temer, com a consequente realização de novas eleições, seria a única saída para dar a um novo presidente a legitimidade necessária para tirar o país da crise.
O raciocínio é que Dilma já não governa mais e perdeu as condições para animar a economia, tirar o país da crise e fazê-lo voltar a crescer. Já que é para fazer uma ruptura, que seja com alguém com legitimidade para se eleger com uma "agenda dura". A previsão é de dois anos de muita dificuldade, durante os quais o presidente terá que tomar medidas que exigirão sacrifício da população. E há dúvidas se Temer - em caso de impeachment de Dilma- terá legitimidade e condições políticas para liderar o processo.
Tucanos chegam a avaliar que uma saída negociada para afastar o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), do cargo, e sua substituição por um nome de consenso poderia facilitar a decisão da Justiça Eleitoral contra a chapa.
Isso porque, em eventual cassação de Dilma e do vice-presidente, Michel Temer, quem assume o governo é o presidente da Câmara, para convocar eleições em até 90 dias. A possibilidade de Cunha, denunciado pela Procuradoria Geral da República por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, assumir durante essa transição é considerada fator de dificuldade para uma decisão do TSE de cassar os mandatos de Dilma e Temer.
Os líderes do PSDB na Câmara dos Deputados, Carlos Sampaio, e no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), já defenderam essa solução há alguns meses, mas foram muito criticados e chamados de "golpistas", por defenderem a antecipação das eleições presidenciais. Após serem bombardeados, os dois recuaram.
Agora, voltaram ao tema ontem, em entrevista na qual o próprio Aécio disse que o partido votaria pelo impeachment, caso o processo fosse submetido a voto, mas deu sinalização da simpatia pela saída TSE.
"O Tribunal de Contas da União [que rejeitou as contas do governo de 2014], pela unanimidade dos seus membros, atesta que a presidente da República, para vencer as eleições, cometeu crime de responsabilidade e terá de responder por isso _ se não estaríamos criando um salvo-conduto para presidentes da República cometerem qualquer tipo de desatino para vencer as eleições.(...) Por outro lado, e não menos grave, o Tribunal Superior Eleitoral encontrou indícios de que houve abuso de poder econômico na campanha presidencial. Para ser mais explícito: dinheiro da propina abastecendo o caixa da campanha da presidente da República", disse.
Aécio lembrou que o TSE pedirá ao Supremo Tribunal Federal (STF) o compartilhamento de provas do esquema de corrupção da Petrobras, obtidas pela Operação Lava Jato, num momento em que "chegam indícios de que efetivamente empresários foram constrangidos a transferir dinheiro para o caixa do PT e para o caixa da campanha presidencial durante o período eleitoral".
A expectativa é que os depoimentos dos envolvidos no esquema de corrupção -não só dos que fizeram delação premiada- comprovem o uso de dinheiro de propina para o financiamento da chapa Dilma-Temer.
Das três opções possíveis para o país -Dilma permanecer "sangrando" até 2018, ser afastada por impeachment aprovado no Congresso ou ser cassada junto com Temer, pelo TSE-, a continuidade do governo até o fim do mandato é a que menos interessa ao grupo de Aécio, que consideram suas chances maiores agora, quando ele representa o principal contraponto do governo, já que disputou com ela em 2014.
O líder do Senado vai além. Defende que as próximas eleições presidenciais sejam realizadas junto com as eleições municipais, em outubro de 2016. Ele calcula que haja tempo suficiente para que o TSE julgue a ação, e presidente interino assuma e convoque as eleições para que um novo presidente assuma por dois anos.
No caso de impeachment, uma preocupação da direção do PSDB é com a pressão para que a legenda participe de um governo Temer. Isso não interessa a Aécio, que não quer acoplar o projeto do PSDB ao do PMDB. Nesse cenário, a posição que o senador mineiro defenderá, que é a mesma do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é que os tucanos ajudem, mas não ocupem cargos na administração.
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