• Na primeira reunião da nova equipe ministerial e um dia após TCU ter rejeitado as contas da gestão em 2014, presidente pede empenho para tentar demonstrar que governo federal não está isolado politicamente e barrar o que chamou de 'golpe democrático'
Tânia Monteiro, Isadora Peron e Vera Rosa - O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Na primeira reunião com sua nova equipe ministerial, a presidente Dilma Rousseff cobrou a ação de ministros para barrar pedidos de impeachment no Congresso. Um dia após a rejeição do balanço de 2014 do governo pelo Tribunal de Contas da União (TCU), e depois de sofrer derrotas seguidas no Congresso, a presidente disse ontem aos ministros que é preciso unidade para virar o jogo.
"Querem pôr em andamento o chamado 'golpe democrático' no País. Não podemos ignorar isso", afirmou Dilma aos ministros, no Palácio do Planalto. "Precisamos trabalhar e mobilizar nossas bases para dar respostas e mostrar que temos apoio". Para a presidente, o julgamento no TCU é "página virada". "Vamos fazer a batalha no Congresso", disse ela, ao lembrar que o parecer do tribunal seguirá agora para a Comissão Mista de Orçamento.
A cobrança por fidelidade foi feita por Dilma no mesmo dia em que a oposição intensificou o movimento pelo afastamento da presidente, aproveitando a fragilidade do governo. "Se o pedido for colocado em votação, o PSDB se colocará favoravelmente àquilo que pensam seus eleitores", afirmou o senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB. "Temos uma situação inédita e vamos analisá-la", comentou a ex-senadora Marina Silva, hoje à frente da Rede Sustentabilidade.
O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ) foi pressionado ontem no plenário para acatar logo o requerimento apresentado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, pedindo o impeachment de Dilma. "A base aliada tem de ficar atenta à movimentação da oposição", disse o novo ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, após a reunião. "Não vamos ficar brincando de esconde-esconde. Todo mundo sabe o cronograma que está sendo montado."
Na terça-feira à noite, Wagner também procurou Cunha na residência oficial do peemedebista. Na conversa reservada, pediu a ele que não aceitasse os pedidos de impeachment. Wagner também afirmou que o governo queria dialogar com todas as alas do PMDB e que não tinha a intenção de privilegiar apenas o líder da bancada na Câmara, Leonardo Picciani (PMDB-RJ). "Não temos a ilusão de trabalhar 100% com o PMDB e o diálogo com Cunha tem de continuar sempre", disse.
Desafeto do governo, Cunha enfrenta situação difícil depois que foram reveladas suas contas na Suíça e, irritado com a "ascensão" de Picciani, tem ajudado a derrotar o Palácio do Planalto.
Mesmo depois de entregar sete ministérios ao PMDB, o governo não conseguiu reunir número de deputados suficientes para manter os vetos presidenciais à chamada pauta-bomba, projetos que elevam os gastos públicos e põem em risco o ajuste fiscal. Tudo se somou à rejeição das contas no TCU e à abertura de uma ação para impugnar a chapa Dilma-Michel Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder nas eleições de 2014.
No encontro de ontem com os ministros, Dilma afirmou esperar reciprocidade dos partidos contemplados na reforma, pois todos devem dar votos ao governo no Congresso. Disse entender que os nomeados troquem a equipe, mas pediu que não interrompam programas caros ao governo.
Apesar da cobrança, ela prometeu resolver "pendências" por cargos e emendas. Um bloco formado por PR, PRB, PTB e PP está exigindo a ocupação de espaços para apoiar Dilma no Congresso.
Articulador do Planalto, o ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, afirmou que o governo tem pouco mais de 70 dias para aprovar dois projetos fundamentais para o ajuste fiscal: a Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF) e a Desvinculação das Receitas da União (DRU). Berzoini argumentou que é preciso destravar as nomeações porque elas influenciam nas votações. Ficou acertado no encontro que Michel Temer, Berzoini e ministros do PMDB farão reuniões semanais com a bancada do partido na Câmara, hoje dividida.
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