Talvez a presidente Dilma Rousseff de fato acredite, como ela disse em entrevista a emissoras de rádio da Bahia, que seu governo está “fazendo imenso esforço para reduzir a inflação” e que, por isso, “a tendência da inflação é de queda, reconhecida pelo mercado”. Falsa ou não, essa convicção a levou a afirmar que “eu estou vendo luz no fim do túnel”. Será a luz do farol do trem vindo em sentido contrário?, poderiam perguntar os realistas. Afinal, praticamente no mesmo momento em que o Palácio do Planalto divulgava a entrevista da presidente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciava os números da inflação em setembro. Ela já superou até o limite de tolerância da política de metas do Banco Central (BC) e continua em alta, como – ao contrário do que disse a presidente – estavam prevendo os economistas do mercado financeiro.
A alta contínua e acelerada dos preços é do conhecimento não apenas dos economistas, mas sobretudo das famílias que, com sua renda em queda por causa do desemprego e da própria inflação, compram cada vez menos com a mesma quantidade de dinheiro. Mas é ignorada pela presidente da República, numa demonstração de seu notório descolamento da realidade do País.
Apenas no primeiro semestre, a alta média dos preços aferida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) – calculado pelo IBGE e referência da política de metas inflacionárias do Banco Central (BC) – tinha sido de 6,17%, bem acima da meta de 4,5% e muito próximo do frouxo limite de tolerância de 6,5% e da inflação de todo o ano passado (de 6,41%, uma variação já excessiva). Com a alta de 0,62% em julho, a inflação dos sete primeiros meses do ano alcançou 6,82%, estourando o limite de tolerância. Já se sabia que a variação de 0,22% em agosto, a menor alta mensal do ano, era apenas uma trégua, como confirmam os dados de setembro agora divulgados.
Com alta de 0,54% no mês passado, o IPCA acumula alta de 7,64% no ano e de 9,49% em 12 meses. A inflação dos nove primeiros meses de 2015 é a maior, para o período, desde 2003, quando o IPCA subiu 8,05% de janeiro a setembro. Era o início do primeiro mandato de Lula, quando eram muito fortes as desconfianças com relação à competência do PT de administrar o País.
Desta vez, o grande vilão apontado pelos dados do IBGE foi o gás de botijão, que subiu em média 12,98% em setembro. Essa alta impulsionou a variação dos preços que compõem o grupo Habitação do IPCA. Também a inflação de serviços ganhou força no mês passado, por causa, principalmente, da alta de 23,23% nas tarifas aéreas.
As projeções para outubro não são animadoras. A desvalorização do real em relação ao dólar deverá continuar impulsionando o preço dos produtos importados e dos itens cotados em moeda estrangeira. Além disso, o reajuste da gasolina pela Petrobrás afetará o comportamento do grupo Transportes neste mês. Já o grupo Alimentação, que havia registrado redução de 0,01% em agosto e alta de 0,24% em setembro (bem menor do que a variação do IPCA), tenderá a eliminar a defasagem que acumulou nos últimos meses em relação aos demais preços.
São fatores que fortalecem as mais recentes projeções de economistas do setor privado consultados semanalmente pelo BC para a elaboração de seu boletimFocus. A mediana das estimativas para a inflação de 2015 captadas pelo BC para o mais recente boletim subiu para 9,53%; no boletim anterior, era de 9,46%. A inflação prevista para 2016 subiu de 5,87% para 5,94%. Quanto ao desempenho da economia, o boletim do BC aferiu que a expectativa média dos economistas do mercado financeiro é de uma redução de 2,85% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, uma contração maior do que a prevista quatro semanas antes, de 2,44%. Outras instituições já falam em encolhimento de 3% do PIB em 2015. Esses números mostram a contínua deterioração das expectativas dos economistas do setor privado e que o otimismo da presidente não tem base real.
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