• Acossado, Cunha deve aceitar pedido de impeachment
- Valor Econômico
"A mulher vai penar, mas não vai cair". É assim que figura proeminente do consórcio governista resume o drama da presidente da República. A rejeição das contas de Dilma Rousseff pelo Tribunal de Contas da União (TCU), na quarta-feira, anima a oposição em busca de argumentos para deslanchar o impeachment. Vai dar mais trabalho para as hostes governistas até agora bastante desorganizadas. Joga água no moinho do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, interessado na queda da petista para salvar a própria pele. Mas a derrubada ainda se mostra improvável diante da falta de votos no Congresso.
Um dos sinais de que não será fácil para a oposição tirar Dilma do poder - mesmo com o parecer do TCU - estaria no principal fato da semana em Brasília e que, paradoxalmente, aponta o interlocutor, foi interpretado como derrota do governo. A manobra que provocou a falta de quórum para votar os vetos presidenciais à chamada 'pauta-bomba' revelou, em parte, o desagrado de partidos aliados com a reforma ministerial que engordou prioritariamente o PMDB. Mas teria evidenciado, também, o alcance limitado da oposição, que articulou, sob o patrocínio de Cunha, a retirada dos parlamentares do plenário. "Quem tem o instrumento do veto é a presidente. Quem tem que derrubá-lo é a oposição. O governo passou a ter mais despesa? Não. Para Dilma está resolvido. Não cabe a ela fazer a pauta do Congresso", argumenta a fonte graduada, presente no centro das negociações para a formação do novo gabinete Dilma. "A reforma deu certo", defende, apesar do impasse logo na primeira semana após o anúncio das mudanças.
Dilma não resolveu, de pronto, a manutenção dos vetos - entre os quais ao projeto que previa aumento salarial de até 78% a servidores do Judiciário. Mas os adversários da presidente teriam se baseado mais numa tática de guerrilha do que numa demonstração de força - antecipando, em certa medida, seu poder de fogo. "Ora, se a oposição não tem os 298 votos necessários [de, no mínimo, 41 senadores e 257 deputados] para derrubar o veto, nem de longe tem os 342 para passar o impeachment. Não vão apear [a presidente]", aposta.
No entanto, diz, o processo será muito encarniçado, especialmente por causa de Eduardo Cunha, desafeto de Dilma e do PT, que nos próximos dias tende a radicalizar sua aliança com a oposição. "Ele está no corredor da morte e está refém da oposição", ressalta.
Para virar o jogo e salvar o mandato, Cunha, observa o interlocutor, agarrou-se aos principais partidos de oposição - PSDB, DEM e PPS - pois, do contrário, o movimento por sua renúncia ou cassação - em virtude dos desdobramentos da Operação Lava-Jato - já teria tomado conta da Câmara. Essas legendas, porém, estão numa situação de desgaste. O presidente do PSDB, o senador mineiro Aécio Neves, "parou de botar a cara" para defendê-lo e agora aciona o líder da bancada federal, Carlos Sampaio. O preço a pagar pela proteção é aceitar pedido de impeachment contra Dilma antes que sua situação fique insustentável e perca apoio até da oposição.
Até o fim do mês, prevê a fonte, Cunha deve precipitar uma "operação de risco" e vai aceitar o pedido de impeachment. Isso porque documentos da Suíça já estariam a caminho do Brasil, provando que o parlamentar tem conta naquele país - o que Cunha negou. A informação daria base para detonar o processo de cassação do presidente da Câmara por quebra de decoro. O pemedebista deve agir em no máximo 20 dias. "Com o agravamento das investigações, Cunha acredita que só tem salvação se cassar a presidente", analisa.
Com um novo governo, o parlamentar poderia ter mais facilidade de garantir a sua sobrevivência, por meio de um acordo. Poderia ser tanto com a ascensão do vice Michel Temer ou com a vitória de Aécio em novas eleições a serem convocadas em 90 dias, caso Dilma e Temer sejam cassados. Nesta situação, quem assumiria, interinamente, é o próprio presidente da Câmara. Hoje, a força política de Cunha, mesmo alvejado pela Lava-Jato, residiria - além dos próprios poderes de agenda da Casa - nesta possibilidade de se sentar na cadeira da Presidência da República, avalia o interlocutor. A expectativa de poder lhe dá sobrevida e contornos mais dramáticos à luta política contra o atual governo.
Mesmo sendo do mesmo partido de Temer, afirma o observador, a preferência de Cunha seria pela cassação do vice e da titular, em prol da extensão de um acordo com Aécio, já em andamento. "O que ele quer é provocar tumulto, com o impeachment, e arrastar o caso dele para ser julgado pelo Supremo [Tribunal Federal] e não pelo Congresso", diz.
Para justificar tamanha convicção sobre o destino de Dilma - sofrido, porém no cargo até completar o mandato - o apoiador da presidente argumenta que o movimento pró-impeachment "não tem legitimidade" e se baseia numa postura golpista da oposição, que encontra respaldo em setores da mídia e do empresariado, "cujo prócer" é o presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. "Mas não tem povo na rua. O movimento é só político e feito de forma desordenada. Acho que não cassa de jeito nenhum", reafirma.
Sobre a complicada estabilização do governo, a visão também não é pessimista. Assim como Cunha em relação à oposição, Dilma parece refém da base aliada, que pede cada vez mais alto para entregar os votos no Congresso. Mas a dissolução do grande bloco que incluía - além do PMDB - PP, PTB, PSC, PHS e PEN, é apontado como um fato menor, pois o objetivo da aliança - formada para eleger Cunha à presidência da Câmara, no início do ano - teria se cumprido. Para o sócio do condomínio governista, as condições de governabilidade tendem a alcançar um ponto de equilíbrio quando "a poeira baixar". Quando isso se dará? "Na medida em que o Congresso não cassar o mandato de Dilma e enquanto Eduardo Cunha, no corredor da morte, for perdendo o ar", diz.
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