• Disputa por reeleição ainda é dúvida para prefeitos ligados a peemedebista
Leticia Fernandes, Marcelo Remigio Juliana Castro - O Globo
BRASÍLIA e RIO - O desgaste que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), enfrenta, com a possibilidade de virar réu na Lava-Jato, além da derrota na eleição da liderança do PMDB na Casa, já respinga em municípios fluminenses onde ele firmou suas bases eleitorais. Prefeitos ligados a Cunha estudam desistir da reeleição.
Outros aliados, incluindo filiados a diferentes siglas, temem não contar com a estrutura eleitoral oferecida por Cunha em eleições anteriores. A maioria já descarta usar a imagem dele nas campanhas, com receio da rejeição.
— Na política, somos aliados até a hora do calvário do outro. Não vai ser diferente com Cunha. Muitos candidatos não vão querer colar sua imagem à dele — afirma um dos líderes do PMDB no estado: — Mas isso não quer dizer que ele deixará de ter nomes na disputa. Cunha navega por outras legendas.
Os prefeitos de Rio Bonito, Solange Almeida, e de Itaboraí, Helil Cardozo, do PMDB, que governam redutos de Cunha, cogitam desistir da reeleição.
Os dois enfrentam problemas locais, mas relatos de pessoas no entorno desses políticos contam que o enfraquecimento de Cunha seria o fator decisivo para a provável desistência. Oficialmente, ambos negam a possibilidade.
O deputado estadual Waguinho (PMDB), pré-candidato a prefeito em Belford Roxo, começou a se descolar do deputado, seu grande aliado nas eleições de 2014. Waguinho, um dos autores do projeto aprovado em março de 2015 na Assembleia Legislativa que concedeu a Medalha Tiradentes a Cunha, chegou a apagar postagens em seu blog em que aparecia ao lado do ex-aliado.
Para o presidente estadual do PMDB e presidente da Alerj, Jorge Picciani, a desistência ou desgaste de aliados de Cunha não afetará o desempenho do PMDB no Estado:
— São prefeituras sem grande significado e com problemas muito pontuais. E as principais cidades não têm vinculação com ele (Cunha).
PMDB pode limitar nomes indicados pelo presidente da Câmara
• Caso não consiga espaço para todos os que formam sua base, Cunha recorrerá a outras siglas
Além de apoiar candidatos a prefeito nas últimas eleições, Eduardo Cunha apostou pesado em nomes para as Câmaras Municipais destinando material de campanha e pedindo votos, com a intenção de reforçar suas bases no interior. O peemedebista conseguiu espalhar aliados pelo Legislativo municipal que atuam como seus cabos eleitorais. Caso tenha espaço reduzido no PMDB para indicações, Cunha optará por ampliar a distribuição de seus nomes em outros partidos. Há no PMDB quem afirme que ocorrerá uma migração de aliados de Cunha ao PSC, partido com o qual ele tem forte ligação.
Proporcionalmente, a cidade onde Cunha mais recebeu votos em 2014 (19.054 dos 232.708 votos, ou 8% de seu total), Itaboraí enfrenta graves problemas por conta das demissões e atrasos nas obras do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. A crise explodiu quando vieram à tona, na Operação Lava-Jato, informações sobre pagamentos de propina e cartel de fornecedores. Além disso, o prefeito Helil Cardozo enfrenta uma ação no Tribunal Regional Eleitoral por abuso de poder político e econômico e pode ser cassado.
— Helil é o prefeito número 1 de Cunha. Itaboraí é o município onde ele foi mais votado, então Helil tem todos os motivos para não ser candidato. Se ele tivesse todos os problemas que enfrenta na cidade, mas com Cunha forte do seu lado, ele poderia até cogitar. Agora, fica difícil — disse um parlamentar ligado ao prefeito. Helil negou a desistência: — Nunca passou pela minha cabeça. Ele (Cunha) foi e sempre será um forte aliado. Não o vejo enfraquecido em absolutamente nada. Vou para a eleição com ou sem Eduardo. Quem deu a vitória a ele em Itaboraí fui eu. Então quem é o mais forte na história? — indagou o prefeito, que comparou sua vinculação a Cunha à relação entre o ex-presidente Lula e o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu: — Não acho que (o apoio de Cunha) me prejudica.
A prefeita de Rio Bonito, Solange Almeida, foi denunciada por corrupção passiva pela Procuradoria-Geral da República por envolvimento com Cunha na Lava-Jato. Ela é acusada de ajudá-lo a pressionar, por meio de requerimentos na Casa, o operador Julio Camargo a pagar propina no aluguel de naviossonda pela Petrobras enquanto era deputada federal, em 2011. Solange admitiu que pensou em não disputar a reeleição, mas para ter mais tempo para ajudar a filha, que vai ser mãe este ano:
— Eu sou pré-candidata. Vou ser avó, então fiquei meio balançada, mas é o meu único comentário sobre isso — disse, acrescentando que discutirá se Cunha aparecerá ou não em sua campanha.
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