- O Estado de S. Paulo
Antes de ser reconhecida pela incompetência, a presidente Dilma Rousseff ficou conhecida pelo cultivo dos maus modos. Maneira de ser, tratada pelo departamento de propaganda do Palácio do Planalto – no momento desativado e posto em desassossego nas dependências da Polícia Federal em Curitiba – como sinal de austeridade e exigência na eficácia do trabalho.
Na versão de sua assessoria, a presidente está sempre “irritada” com alguma coisa. Com o Congresso irritou-se a ponto de considerar desnecessário estabelecer relações cordiais até com parlamentares e partidos e sua base de apoio.
Com subordinados (dos mais aos menos qualificados) irrita-se ante qualquer contrariedade. Com a oposição irrita-se só pelo fato de ela existir. Com a imprensa mostra-se extremamente irritada se cobrada a falar sobre este ou aquele escândalo envolvendo sua administração. Chegou aos píncaros da irritação quando, ainda ministra, (des) qualificou como “rudimentar” a proposta dos então ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo para a condução da economia, cuja preliminar era o ajuste fiscal.
Agora a presidente da República está muito irritada com seu partido, o PT, que resolveu voltar às origens e negar o apoio que deu a Lula em 2003 para a adoção de medidas racionais. Com isso, cai o último bastião de defesa de Dilma. O partido não a quer. E nessa hora em que se encontra cercada de males por todos os lados, não há mais quem a queira, estão todos muito irritados com ela: se fala na TV, a presidente é alvo de panelaços, se transita por ambientes não protegidos arrisca-se a ser vaiada, quando apela ao Congresso não obtém a resposta pretendida. O empresariado não lhe tem apreço e os movimentos sociais já a tratam como inimiga.
Dilma é a “persona” menos grata da República. Não se encontra quem esteja disposto a lhe estender a mão ou nutra por ela alguma simpatia. Resultado da antipatia que semeou.
Isolada, a “rainha” não paira “sobranceira sobre os adversários” como prometeu João Santana. Antes, colhe os frutos da malquerença que com tanto afinco cultivou.
Nem Moro nem PT. Durante o período em que esteve preso, o senador Delcídio Amaral chegou a cogitar a hipótese de propor ao Ministério Público um acordo de delação premiada. A família incentivava.
Mas, pensando melhor sobre as acusações que lhe são imputadas, pesando o custo e o benefício, desistiu por considerar perfeitamente possível derrubá-las com argumentos jurídicos. Por exemplo, contestando a legalidade da gravação feita pelo filho de Nestor Cerveró (ex-diretor da Petrobrás) e argumentando que seu mal foi contar vantagem indevida ao sugerir influência sobre ministros do Supremo Tribunal Federal.
Num primeiro momento, o senador concentrará esforços em convencer seus pares em geral, e os integrantes do Conselho de Ética em particular, a não cassar-lhe o mandato. Se fizesse acordo com o MP, a preliminar seria admissão de que realmente tentou obstruir o trabalho dos investigadores, o que por si só já configuraria quebra de decoro.
Preservado o foro especial de parlamentar, Delcídio Amaral mantém prudente (na visão dele) distância do juiz Sérgio Moro. Num segundo momento, o senador cuidará de sua vida partidária. Encerrando sua carreira de petista que, hoje conclui, nunca deveria ter sido iniciada.
Conta zerada. Se o silêncio de Marcelo Odebrecht tinha como objetivo a preservação da empresa, a motivação cessou com os depoimentos de Mônica e João Santana, atribuindo à construtora a prática de ilícitos no âmbito internacional.
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