Análise: Alessandro Janoni – Folha de S. Paulo
Os números divulgados neste domingo (28) pelo Datafolha devem alimentar discursos antagônicos.
A oposição enfatizará a manutenção da impopularidade da presidente em patamares elevados, aliviada talvez pela interrupção da tendência de queda no índice dos que reprovam o governo –em dezembro de 2015, a taxa dos que consideravam Dilma ruim ou péssima consolidava perdas contínuas, enquanto o conjunto dos que a aprovavam subia na mesma proporção.
Ainda sob essa perspectiva, Lula está longe de seu melhor momento político. A maioria da população identifica jogo de benesses nos episódios do tríplex em Guarujá e do sítio em Atibaia. O cenário lança dúvidas inclusive sobre seus eleitores mais fiéis.
Numa segmentação elaborada pelo Datafolha com base no histórico de votação dos entrevistados nos pleitos em que o petista concorreu à presidência, 33% revelam ter votado no ex-presidente sempre que tiveram a chance de fazê-lo em pelo menos um dos turnos das eleições desde 1989. Entre eles, um terço descarta repetir o hábito para 2018.
Fora isso, as expectativas sobre inflação e desemprego, apesar de apresentarem leve melhora, continuam pessimistas, embaladas por indicadores de aumento no índice dos que buscam uma colocação no mercado de trabalho e pela queda no poder de compra dos salários, especialmente entre os jovens e entre os que têm o nível médio de escolaridade, grupos que ascenderam ao longo dos 13 anos de governo petista.
No extremo oposto, sob outra ótica, o governo pode comemorar o fato de que apesar das tormentas políticas e econômicas dos últimos dois meses, intensificadas pelas suspeitas contra o maior nome do PT, e de pessoas diretamente ligadas a ele, variações pouco significativas foram detectadas na opinião pública no mesmo período.
Para quem esperava um nocaute com os desdobramentos da Lava Jato, a estabilidade da taxa dos que defendem o impeachment e o crescimento no índice dos que consideram Dilma regular, principalmente no Nordeste, podem configurar sinais de que alguns golpes já foram assimilados.
Mesmo sob exposição negativa, Lula ainda é o mais citado como o melhor presidente da história.
Além disso, boa parte da população ainda não identifica nas condições da vida pessoal os problemas que enxerga na economia do país e se mostra mais otimista sobre o futuro do que há dois meses.
A questão é o quanto creditam tal diagnóstico e essa esperança a forças políticas ou a méritos próprios. O balanço final dessa equação se mostrará presente nas decisões de voto nas próximas eleições.
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