Por Letícia Casado - Valor Econômico
BRASÍLIA - Um relatório de inteligência da Polícia Federal informa que os investigadores da Operação Lava-Jato apuram "possível envolvimento" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em práticas criminosas, mas "com parcimônia, o que não significa que as autoridades policiais devam deixar de exercer seu mister constitucional".
O relatório faz parte de material sobre a 23ª fase da Lava-Jato, deflagrada ontem, e que analisa uma anotação, "Prédio (IL)", encontrada no celular do empreiteiro Marcelo Odebrecht. Ao lado da nota há um valor, R$ 12,4 milhões, que os analistas acreditam, teria sido pago a João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, preso pela Lava-Jato.
"Assim, caso a rubrica 'Prédio (IL)' refira-se ao Instituto Lula, a conclusão de maior plausibilidade seria a de que o Grupo Odebrecht arcou com os custos de construção da sede da referida entidade e/ou de outras propriedades pertencentes a Luiz Inácio Lula da Silva", diz o relatório.
"As anotações da planilha possivelmente idealizada por Marcelo Bahia Odebrecht revelam, a partir do que foi possível apurar em esfera policial, o controle que o dirigente máximo do Grupo Odebrecht tinha sobre a destinação de recursos, à margem da lei, ao Partido dos Trabalhadores".
A PF informa que as possíveis conclusões podem estar equivocadas. O delegado federal Filipe Pace, que assina o relatório, diz esperar que investigados como Fernando Migliaccio e Maria Lúcia Tavares, ex-funcionário e funcionária da Odebrecht, assim como o ex-presidente da companhia, Marcelo Odebrecht, esclareçam a razão e o significado de cada uma das anotações.
"É importante que seja mencionado que a investigação policial não se presta a buscar a condenação e a prisão de 'A' ou 'B'. O ponto inicial do trabalho investigativo é o de buscar a reprodução dos fatos. A partir disto, se tais fatos apontarem para o cometimento de crimes, é natural que a persecução penal siga seu curso, com o indiciamento pelo delegado de polícia, o oferecimento de denúncia pelo Ministério Público etc. Se os fatos indicarem a inexistência de ilegalidades, é normal que a investigação venha a ser arquivada", diz o relatório.
A anotação "Prédio (IL)" tem valor referido de R$ 12,422 milhões. O valor foi composto por três parcelas de R$ 1,057 milhão (R$ 3,171 milhões), acrescidos de R$ 8,217 milhões e R$ 1,034 milhão. O relatório sugere ter encontrado uma possível referência ao Instituto Lula. Segundo a PF, esses valores referem-se talvez a "serviços prestados".
Procurado, o Instituto Lula afirmou que os supostos fatos são improcedentes e que o Instituto Lula funciona em um sobrado adquirido em 1991, pelo antigo Instituto de Pesquisas do Trabalhador. A Odebrecht nega que as referências encontradas no material apreendido tenham relação com Lula, seu instituto ou o PT. (Colaborou Carmen Munari, de São Paulo)
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