Letícia Casado – Valor Econômico
BRASÍLIA - A Polícia Federal apura se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve algum envolvimento em suposto esquema de compra de medidas provisórias investigado no âmbito da Operação Zelotes ou se seu nome foi usado indevidamente por suspeitos de praticar tráfico de influência.
A PF investiga fatos que envolvem suposta negociação de emendas em três medidas provisórias dos governos Lula e Dilma Rousseff que beneficiaram a indústria automotiva: MP 471/2009, 512/2010 e 627/2013.
Quando o inquérito - aberto em dezembro - for finalizado, a Polícia Federal vai produzir um relatório no qual descreverá o papel de Lula no suposto esquema de corrupção. Ele poderá ser indiciado, caso haja provas. A PF pode também informar que não se chegou a conclusão alguma sobre o papel dele no esquema ou inocentar o ex-presidente.
O nome de Lula é mencionado em e-mails trocados entre os investigados da Zelotes. Na época das mensagens, Lula era presidente e duas das medidas provisórias investigadas estavam em tramitação. Além disso, a PF investiga também se pagamentos feitos pelo escritório de dois réus da Zelotes à empresa de seu filho Luís Cláudio, a LFT Marketing Esportivo, teriam relação com a MP 627/2013.
Em ofício enviado à Justiça Federal, o delegado Marlon Cajado escreveu que "documentos juntados aos autos apontavam para eventuais colaborações" de servidores públicos além dos já denunciados pela Zelotes.
A fim de "evitar conclusões precipitadas", a PF instaurou inquérito para apurar quais agentes públicos foram "de fato corrompidos e estariam associados a essa organização criminosa" ou se o grupo estaria usando seus nomes nas transações, "vitimando-os e praticando tráfico de influência". Lula está entre os agentes públicos citados.
O ofício do delegado foi uma resposta a advogados de réus da Operação Zelotes. Eles afirmam que este inquérito existe para investigar os mesmos crimes pelos quais seus clientes foram denunciados, o que não pode ser feito. O delegado negou que a PF esteja fazendo isso.
Não há até agora no âmbito da Zelotes ato específico contra Lula, tais como mandado de busca e apreensão em locais ligados a ele; quebra de sigilo; ou análise de documentos, apurou o Valor.
A defesa do ex-presidente criticou "a conduta do delegado Cajado". Em nota, seu advogado, Cristiano Zanin Martins, afirma que Lula foi ouvido no dia 6 de janeiro "na condição de informante, sem a possibilidade de fazer uso das garantias constitucionais próprias dos investigados. Não há nenhum elemento que justifique a mudança do tratamento".
O delegado Cajado escreveu também no ofício enviado à Justiça que o "exíguo prazo" da investigação permitiu concluir até o momento "por indícios inequívocos de cooptação e corrupção" do ex-diretor de comunicação do Senado Fernando Cesar Mesquita e da ex-assessora especial da Casa Civil Lytha Spíndola. Tanto Mesquita quanto Lytha negam ter participado de esquema de corrupção.
Em outra frente da Zelotes, tornou-se pública ontem a resposta dada pela presidente Dilma Rousseff a questionamentos feitos pela defesa de um dos réus da operação, o advogado Eduardo Valadão, apontado como lobista pelos investigadores. Dilma foi convocada como testemunha de defesa de Valadão e respondeu algumas perguntas por escrito. Dilma disse não possuir informações que possam auxiliar as investigações. Em outro ofício, a Casa Civil informou que a presidente vetou emendas à MP 512/2010.
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