Por Robson Sales - Valor Econômico
RIO - Com o reajuste dos transportes públicos e os alimentos mais caros, a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acelerou para 1,27% em janeiro, após alta de 0,96% um mês antes, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A taxa é a maior para o mês desde 2003, quando o IPCA subiu 2,25%. Em janeiro de 2015, o índice avançou 1,24%.
Com o resultado, o acumulado em 12 meses subiu 10,71%. Nesta comparação, é a taxa mais elevada desde novembro de 2003, quando marcou 11,02%.
O IPCA de janeiro ficou acima da média estimada pelos analistas consultados pelo Valor Data, de 1,1% de avanço. O intervalo das estimativas era de alta de 1,02% a 1,20%. Em 12 meses, a previsão era de inflação de 10,52%.
Alimentação e bebidas, com alta de 2,28%, e transportes, com 1,77%, grupos de maior peso na despesa das famílias, foram responsáveis pela maior parte do resultado do IPCA do mês. "Juntos, os alimentos, com 0,57 ponto percentual, e os transportes, com 0,33 ponto percentual, tiveram contribuição de 0,90 ponto, detendo 71% do índice", destaca o IBGE. No fim de 2015, alimentos tinham subido 1,50% e, transportes, 1,36%.
Alimentos disparam
A alta mensal do grupo alimentação é a maior desde dezembro de 2002, quando marcou 3,91%. Em 12 meses, essa despesa subiu 12,90%.
Além disso, foi a variação mais elevada para o mês de janeiro desde o início do Plano Real, em 1995. A forte desvalorização cambial, o reajuste e criação de novos pedágios e a alta do diesel aumentaram muito os custos dos produtores, apontou a gerente da coordenação dos índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. O clima no primeiro mês do ano também contribuiu para a escalada dos preços dos alimentos, que têm peso de cerca de 25% no orçamento das famílias. Em janeiro do ano passado, a inflação do grupo alimentos e bebidas ficou em 1,48%.
"O açúcar tem aumentado muito diante das exportações, os alimentos in natura sofrem por causa da seca ou do excesso de chuva, dependendo da região", enumerou a pesquisadora do IBGE.
A desvalorização cambial, além de aumentar custos com produtos importados, como adubos e fertilizantes, incentiva os produtores à exportar, o que reduz a oferta nacional e pressiona a inflação, avalia Eulina dos Santos. O dólar tem impacto forte em alimentos como farinha de trigo (0,83%), pão de forma (5,55%) e macarrão (1,46%).
Segundo o IBGE, quase 45% do IPCA total em janeiro correspondeu à alta dos alimentos. Enquanto os produtos comprados para consumo em casa aumentaram 2,89%, a alimentação fora de casa subiu 1,12%.
Transportes
No grupo Transportes, o avanço foi puxado pelo transporte público, que teve acréscimo de 3,84%, e pelos combustíveis, com 2,11% de aumento.
A liderança na relação das principais contribuições individuais no IPCA do mês ficou com o item ônibus urbanos, com 0,14 ponto percentual, seguido pelos combustíveis, com 0,11 ponto. As tarifas dos ônibus urbanos aumentaram 5,61%, tendo em vista a concentração de reajustes em seis das 13 regiões pesquisadas pelo IBGE.
Além disso, trem e metrô tiveram elevação de 4,19% e 4,27%, respectivamente, em vista do reajuste de 8,57% ocorrido em 9 de janeiro na região metropolitana de São Paulo. Nos ônibus interestaduais, as tarifas tiveram alta de 1,22%.
Serviços
Eulina Nunes dos Santos, do IBGE, não descartou que alguns preços estão sendo reajustados refletindo alta de outros custos passados. "É comum ter itens indexados de um ano para o outro", explicou. A desaceleração na inflação de serviços em janeiro, no entanto, ainda não deve ser vista como consequência do desaquecimento da economia e a redução da demanda. Para a gerente da coordenação de índices de preços do instituto, o que puxou para baixo os preços dos serviços foi a queda de 6,13% na passagem aérea em janeiro, que acumula em 12 meses baixa de 16,89%.
Em janeiro, a inflação de serviços ficou em 0,67%, abaixo da média geral do IPCA nacional. Em 12 meses somou 7,88%, quase um ponto percentual a menos que em janeiro de 2015, quando acumulou em igual período 8,75%.
O IPCA mede a inflação para as famílias com rendimentos mensais entre um e 40 salários mínimos, que vivem nas regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Vitória, Brasília e nos municípios de Goiânia e Campo Grande.
Índices regionais
A inflação acelerou em nove dos 13 locais pesquisados pelo IBGE entre o fim de 2015 e o início deste calendário. O Rio de Janeiro foi a região metropolitana com a maior aceleração dos preços, com o IPCA saindo de aumento de 1,24% para 1,82%.
O custo de vida no Grande Rio foi pressionado pela alta nas tarifas dos ônibus urbanos (10,59%), ônibus intermunicipais (8,62%) e táxi (8,76%), segundo o IBGE.
Em São Paulo, o reajuste dos transportes também pesou no resultado do IPCA, que acelerou de 0,84% para 1,10% de incremento. Em 12 meses, a região metropolitana paulista acumulou alta de 10,66%, pouco abaixo da média nacional para o período, de 10,71%.
Em Salvador, o IPCA quase dobrou de um mês para o outro, de 0,94% em dezembro de 2015 para 1,82% em janeiro deste ano. Na região metropolitana baiana, o ônibus urbano subiu 8,99%.
Ainda no comparativo mensal, a inflação acelerou também em Belo Horizonte, de 0,58% para 1,19%; Campo Grande, de 0,91% para 1,38%; Recife, de 1% para 1,32%; Goiânia, de 0,8% para 1,2%; Vitória, de 1% para 1,15%. Fortaleza manteve a taxa positiva de 1,45%. Os preços esfriaram um pouco, mas continuam em patamar elevado em Belém (1,39% para 1,06%); Brasília (1,21% para 0,93%) e Curitiba (1,14% para 0,73%).
INPC
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 1,51% em janeiro, vindo de um incremento de 0,90% um mês antes. Em janeiro de 2015, o INPC teve alta de 1,48%. Em 12 meses, a taxa foi positiva em 11,31%.
Os produtos alimentícios avançaram 2,41% em janeiro, seguindo elevação de 1,60% em dezembro de 2015. O grupamento dos não alimentícios apresentou acréscimo de 1,11%, em janeiro, acima dos 0,59% do mês anterior.
O INPC abrange as famílias com renda entre um e cinco salários mínimos mensais, que vivem nas mesmas regiões pesquisadas para o IPCA.
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