Inquérito no Supremo que era sigiloso até dezembro investiga, entre outros, o presidente do Senado, Renan Calheiros, por indícios de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
• Investigação encontrou indícios de corrupção em pedidos de doação de campanha eleitoral em 2014
Vinicius Sassine – O Globo
- BRASÍLIA- O presidente do Senado, Renan Calheiros ( PMDBAL), e o senador Romero Jucá ( PMDB- RR), segundo vicepresidente da Casa, foram incluídos pela Polícia Federal na investigação sobre o senador e ex- ministro Edison Lobão ( PMDB- MA). A PF diz ter encontrado indícios de corrupção passiva e lavagem de dinheiro em pedidos de doação de campanha em 2014, feitos por Renan e Jucá. A suspeita consta de relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado.
O delegado Thiago Machado Delabary enviou ofício ao ministro Teori Zavascki pedindo a ampliação de inquérito, que já investigava Lobão, para incluir Renan e Jucá. Teori determinou a inclusão dos dois senadores na lista de investigados em 8 de setembro.
O procedimento teve tramitação oculta no STF. Todos os documentos eram mantidos sob sigilo. Esse é um dos seis inquéritos em que Renan é investigado na Operação Lava- Jato
A informação só veio a público agora porque o inquérito deixou de tramitar em sigilo. Segundo a PF, doações de R$ 3 milhões solicitadas aos filhos de Renan e Jucá podem se configurar propina, de um pacote de R$ 30 milhões acertado entre Lobão e o dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa.
Para a PF, a propina teria sido acertada a partir de contrato obtido pela UTC nas obras da usina nuclear de Angra 3, no Rio. A PF suspeita que os “elementos amealhados” no caso da Petrobras, com propina travestida de doação oficial de campanha, “autorizam a suspeitar que a mesma sistemática tenha sido utilizada no âmbito da Eletronuclear”.
Janot defende ampliação
O procurador-geral, Rodrigo Janot, considerou “essencial a extensão das investigações do inquérito para alcançar o recebimento de vantagens indevidas por membros do Congresso vinculados ao PMDB como decorrência da contratação de consórcio para obras em Angra 3, particularmente os senadores Renan Calheiros e Romero Jucá”.
O pedido da PF ao STF apontou ainda necessidade de apurar doações da UTC à campanha de Renan Filho (PMDB), eleito governador de Alagoas em 2014, e de Rodrigo Jucá, derrotado nas últimas eleições em Roraima — ele foi candidato a vice-governador na chapa de Chico Rodrigues (PSB). A ampliação do escopo do inquérito não incluiu os filhos dos senadores. Registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que a direção do PMDB em Alagoas recebeu doações de R$ 1 milhão da UTC e a direção do partido em Roraima, R$ 1,5 milhão.
Renan e Jucá procuraram Pessoa após o suposto acerto com Lobão e pediram doações aos filhos, de R$ 1,5 milhão cada, em jantares em hotéis de luxo em São Paulo. Ao fim da conversa, Renan teria citado o contrato da UTC em Angra 3. “Contribuições financeiras solicitadas a Pessoa pelos senadores Renan Calheiros e Romero Jucá para as campanhas de seus respectivos filhos, em 2014, poderiam configurar, em tese, os delitos de corrupção e lavagem de dinheiro”, cita a PF. “Há indicativos de que tais contribuições tratam- se, em verdade, de vantagens indevidas solicitadas por integrantes da alta cúpula de partidos em razão do mero fechamento de contrato com diretoria cujo cargo é ocupado por pessoa supostamente indicada pelo referido partido.”
Ainda segundo a PF, a Lava-Jato demonstrou ser “lugar-comum” o pagamento de contribuições de campanha em função de contratos de empreiteiras com a Petrobras. “Há fundados indícios de que é indevida a solicitação e o recebimento de uma vantagem econômica decorrente da mera formalização de um contrato com órgão público. Também há fundados indícios de que tais pagamentos só foram solicitados em razão da função pública exercida pelos mesmos, de senadores da República”, escreveu a PF.
Renan negou as suspeitas da PF. Disse já ter prestado todos os esclarecimentos e se pôs à disposição para novas informações. Jucá depôs em 11 de novembro, com o filho.
Afirmou não ter mantido relações pessoais com Pessoa e disse ter estado uma única vez com o empreiteiro, no Hotel Fasano em SP, em 21 de agosto de 2014, quando pediu doação ao PMDB de Roraima. Lobão também negou recebimento de propina.
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