- Folha de S. Paulo
A Operação Acarajé repôs Dilma na fritura quando o risco de deposição da presidente parecia diminuir, se diz por aí. Já se ouviu essa conversa umas três ou quatro vezes desde 2015. O óleo voltou a queimar.
Não parece razoável, portanto, pensar a crise como um ioiô em que as chances de sobrevida da presidente subam a cada aparente resfriamento dos escândalos ou a cada vez que Dilma "vença" uma disputa no Congresso como cabo eleitoral de alguma facção rastaquera.
Não importa se a gordura seja dendê, banha ou petróleo. O governo de Dilma Rousseff é torrado por incêndios sem controle.
Lava-Jato. A operação não terá fim, afora um golpe ou acordão políticos ou erro, dada a extensão da pirataria contra o Estado. Deve queimar até que tudo se consuma:
1) Puxa-se uma pena, vem uma galinha. A Lava Jato se ramifica sem limite;
2) A Lava Jato tem ramos antigos que ainda vão dar brotos. Estão para começar as delações da Andrade Gutierrez. Há brasas dormidas no setor elétrico. Há a Zelotes (compra de decisões tributárias e de medidas provisórias). Etc.;
3) Há o processo contra quatro dezenas de parlamentares, que podem dar em muitas flores do pântano;
4) O processo pode ser dosado politicamente. Está morno? Puxe-se aquela pena. Vem um peru gordo e sujo.
Oposição, ruas, PMDB. Dado o vexame do ano passado, nas férias o PSDB levou um pito "das bases" (grandes financiadores) por ter ajudado a explodir o resto das contas públicas. Voltou dizendo, de modo confuso, que não vai apelar ao "quanto pior, melhor". Porém:
1) O PSDB vai tentar tocar fogo "nas ruas" pelo impeachment;
2) Os tucanos já fazem lobby para que o Supremo desembarace os procedimentos do impeachment. Acabam de colocar um acarajé na bandeja do processo de cassação da chapa Dilma-Temer no TSE;
3) Apesar da "vitória" do governo na semana passada, o PMDB-Câmara está tão dividido quanto no final do ano passado. Uns 40% dos deputados são de "oposição".
Crise. Pioras e incertezas:
1) O ritmo de aumento do desemprego e queda dos salários se acelera. A inflação tornou-se persistente: vai demorar mais a cair, se tanto, grande fator de desânimo do consumidor, o cidadão comum;
2) O plano de obras que poderia ajudar a tirar o país do atoleiro, o de 2015, não sai do lugar. O de 2012 vai atolando. O efeito positivo maior das contas externas aparece só em 2017;
3) As reformas que o governo promete são ainda vagas e poucas. São dinamitadas pelo PT. Outros partidos teriam má vontade de votar medida impopular em qualquer situação, menos ainda em ano eleitoral, com os petistas dando o fora;
4) Fala-se que o governo vai cortar tantos bilhões do Orçamento. É tudo conversa meio mole. A gente não sabe nem qual vai ser a receita (se vai ser mais derrubada pela recessão). Dilma está pedindo aos "partidos da base", pelo amor de deus, pessoalmente, que votem aumento de imposto. Tem ouvido nãos;
5) Não há, à vista, ação coordenada do establishment econômico por um "pacto" pela mudança econômica, se isso ainda é possível em um país complexo como o Brasil.
Todas as bocas do fogão da crise estão acesas.
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