quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Vinicius Torres Freire: O varejo no atacado vai mal

- Folha de S. Paulo

O comércio vendeu muito menos em 2015. O movimento do varejo depende de salários e crédito, que apenas por milagre vão melhorar neste 2016. De onde virá pelo menos um anteparo que evite baixas maiores na economia?

As vendas do varejo baixaram 4,3%, soube-se ontem pelo IBGE. Dadas as previsões para emprego e crédito, tenderiam a cair outro tanto neste ano. Nas contas da Confederação Nacional do Comércio, é isso o que deve acontecer: baixa de 3,9%.

O total dos rendimentos do trabalho deve cair mais do que em 2015, pois o número de pessoas empregadas e o salário médio começaram a diminuir no fim do ano passado e devem diminuir mais, pois o desemprego vai aumentar.

Os dois maiores bancos privados do país, Bradesco e Itaú, consideram que o total de dinheiro que têm emprestado deve diminuir entre 4% e 5% neste ano. No ano passado, o estoque de crédito desses bancos havia encolhido cerca de 6%.

Não há boas estimativas sobre o que vai ser dos salários neste ano. A tendência registrada no trimestre final de 2015 era de piora. Além do mais, espera-se que a taxa nacional de desemprego passe da média de uns 8,5% no ano passado para 11,5% neste. É fácil perceber que salários não tendem a aumentar em ambiente de desemprego crescente.

O crédito para as pessoas físicas parece variar com os salários e ânimos dos consumidores, que não deverão estar muito animados com as perspectivas ou com a situação da sua vida nesse ambiente de medo maior de desemprego ou desocupação de fato.

Do consumo não virá um aumento da demanda na economia, ao contrário, pois.

Dos investimentos do setor público "em obras" também não virá impulso, se é que não haverá corte adicional, depois do massacre horrendo de 2015 (no caso do governo federal, corte de quase 40%).

Do setor externo pode vir alguma ajuda, que, no entanto, ainda parece muito pequena, se alguma. Do que se trata? Numa recessão, ainda mais com um "dólar caro" (real desvalorizado), tende-se a produzir no país o que se comprava lá fora (lembram do dólar a R$ 1,60?), além de exportar mais, vender mais no exterior.

As previsões são ainda mais difíceis nesse caso, pois não se sabe muito bem como a indústria nacional vai reagir, se é capaz de recuperar mercados e se haverá mercado, pois o comércio mundial anda periclitando. Como se tem visto, há rumores de mais lerdeza na economia internacional.

O impulso viria do investimento privado (em novos equipamentos, instalações produtivas, construções)? Por enquanto, a confiança dos empresários permanece arrasada, embora dê um ou outro sinal de que, talvez, tenha parado de afundar.

Daí que vá melhorar é muito otimismo, pois: 1) Há perspectiva é de recessão feia em 2016 e estagnação em 2017; 2) Não há investimento público; 3) Não há sinal de que a ruína progressiva das contas públicas será contida; 4) O descrédito do governo é ainda abissal; 5) Os juros estão altíssimos.

Um programa de concessões, privatizações, de obras e serviços poderia fazer a roda da economia girar um tico. Mas mesmo esse plano está atolado desde que o governo o anunciou com a fanfarra ridícula de sempre, em meados de 2015.

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