• Ato pelo Dia Internacional da Mulher em São Paulo apoia presidente e provoca confusão
Luiza Souto, Stella Borges e Renan Xavier* - O Globo
SÃO PAULO e BRASÍLIA - No próximo domingo, a Avenida Paulista será palco, a partir das 15 horas, de um protesto pró- impeachment, organizado na internet por movimentos contra a presidente Dilma. Desde o início desta semana há especulações de que o local também receberia um ato de apoiadores da presidente. Ontem, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) descartou a realização de dois protestos no mesmo dia na Paulista. Ele afirmou que permitirá que no local seja realizado apenas o ato contra Dilma.
— Havia uma solicitação para uma outra manifestação no sentido contrário e nós dissemos que no mesmo local e horário não pode. Esse pleito a favor do impeachment e contra a corrupção já estava agendado há mais de um mês, nem tinha nada a ver com a operação que ocorreu na sexta-feira passada — disse Alckmin, em entrevista a rádio Jovem Pan, referindo- se a 24 ª fase da Operação Lava- Jato, que levou o ex- presidente Lula a depor coercitivamente.
À noite, em Brasília, Alckmin declarou que o esquema de segurança foi montado e que os manifestantes poderão circular em segurança.
— A polícia está preparada e nós vamos trabalhar para que as manifestações ocorram em horários ou locais diferentes.
Na internet, desde anteontem, um movimento intitulado “Sem medo de ser feliz” está convocando simpatizantes para se contrapor ao ato que defenderá o impeachment de Dilma na Paulista. Este evento, porém, está marcado para outro local e horário: 11 horas, na Praça Roosevelt. Outras manifestações estão previstas em mais seis capitais — Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife, Porto Alegre e São Luís.
O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão ( PMD), afirmou que não recebeu nenhuma recomendação por parte do governo federal em relação à segurança das manifestações: — Vai ser tranquilo, como sempre. Ontem, a UNE informou que o ato pró- Dilma se trata de um evento organizado por produtores culturais. O anúncio do evento em uma rede social diz: “No próximo domingo, dia 13 de março, vamos gritar contra a crescente onda de ódio e intolerância que tomou conta do país nos últimos tempos. Vamos celebrar juntas e juntos a Democracia, repudiando os movimentos conservadores que avançam no Brasil”.
O presidente do PT, Rui Falcão, tem dito que o partido não está organizando nenhum protesto para domingo. “Vamos participar, organizadamente, das manifestações do dia 8 de Março, Dia Internacional da Mulher, e das datas convocadas pela Frente Brasil Popular: 18 e 31 de março”, escreveu ele anteontem.
Um ato realizado ontem em São Paulo por movimentos sociais pelo Dia Internacional da Mulher virou palco para uma defesa pública de Dilma. Além de pedir igualdade de direitos, legalização do aborto e equiparação de salários, o evento teve faixas e palavras de ordem em apoio à presidente.
Uma faixa à frente da marcha dizia: “Somos todas Dilma”. Adesivos colados nas roupas de parte das manifestantes pregavam: “Não vai ter golpe”. O ex-presidente Lula, investigado pela Lava- Jato, também recebeu solidariedade. Uma grande bandeira vermelha tinha a imagem do ex-presidente e a frase “Lula, eu respeito; Lula, eu defendo”. A Polícia Militar estimou que cerca de 2 mil pessoas participaram do ato. Um trecho da Avenida Paulista foi fechado para a passagem do grupo no fim da tarde.
Gritos de “não vai ter golpe”
Apesar da maioria pró-Dilma, uma confusão foi registrada no início do ato entre manifestantes favoráveis e contra a presidente. De cima de um carro de som, uma mulher gritou: “Fora, Dilma”.
Logo depois, uma das organizadoras do evento anunciou que a pauta da manifestação seria sobre questões ligadas à mulher e não à política. O discurso, porém, foi abafado com gritos de “não vai ter golpe” e vaias. Outra manifestante endureceu o discurso. — Viva às mulheres, mas viva também aos trabalhadores. Precisamos ficar em vigília e tomar cuidado com a direita golpista. Não vai ter golpe — bradou, em defesa à manutenção de Dilma no poder.
Um grupo pediu calma e respeito às diferentes opiniões. A farmacêutica Josefa Alves da Silva, de 63 anos, participava pela primeira vez do tradicional ato no Dia Internacional das Mulheres, mas se disse decepcionada com o governo Dilma.
(* Estagiário sob supervisão de Maria Lima).
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