Por Raymundo Costa e Claudia Safatle – Valor Econômico
BRASÍLIA - Em encontros recentes com representantes do mercado financeiro, o deputado Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB na Câmara, traçou um quadro político dramático para o governo da presidente Dilma Rousseff, caso as manifestações pró-impeachment, marcadas para o domingo, sejam de grande dimensão.
Para ele o prazo de permanência da presidente no cargo pode se encurtar substancialmente se os protestos repetirem ou superarem o padrão das manifestações de março do ano passado.
Picciani é, ao lado do presidente do Senado, Renan Calheiros AL), o principal aliado de Dilma no Congresso e, como deixa claro, não pretende abandoná-la. Ele confirmou que teve um almoço na segunda-feira, no Rio, com um grupo do mercado, e participou há poucos dias de um encontro patrocinado pelo JPMorgan. E procurou amenizar o conteúdo da sua análise sob o argumento de que qualquer um, diante do quadro atual, poderia ter dito o mesmo.
O deputado avaliou como frágeis a situação do PT e, particularmente, a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma eventual candidatura de Lula à Presidência da República em 2018, como o ex-presidente anunciou em entrevista após condução coercitiva para depoimento na Polícia Federal sexta-feira, teria, assim, pouco fôlego.
Dos interlocutores, Picciani ouviu uma grande preocupação com a situação do sistema financeiro nacional caso a crise perdure por muito mais tempo. Sobretudo se a crise que assola o setor de petróleo e gás levar à deterioração financeira irremediável das maiores empreiteiras do país, implicadas nas investigações da Operação Lava-Jato.
Domingo, dia 13 de março, é uma referência para os partidos. Mas não é a única. O poder de articulação do governo Dilma no Congresso caiu a zero, conforme reconhecem líderes da própria base. Nessas condições, as conversas em torno do afastamento da presidente devem ocupar o Congresso mesmo que os protestos sejam um fracasso. Só ficará ainda mais difícil.
Ao Valor, Picciani ponderou que no caso de as manifestações serem modestas ficará "uma lacuna...."
Com nenhuma ou pouca oposição, o processo pode levar até quatro meses na Câmara dos Deputados, se forem seguidos todos os trâmites regimentais previstos. A solução via o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com a cassação da chapa Dilma / Michel Temer pode se estender por todo o mandato da presidente.
O PT, no entanto, promete manter a defesa do mandato de Dilma, tanto no Congresso quando no Judiciário, apesar das divergências entre o partido e o governo, sobretudo no que diz respeito à política econômica. Um dos pressupostos das conversas que objetivam abreviar a saída da presidente Dilma é o afastamento do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cujo processo de cassação do mandato começou a andar no Conselho de Ética.
A margem de manobra de Dilma começou a se estreitar também no PMDB, partido cuja divisão permitiu à presidente resistir à primeira ofensiva sobre seu mandato, no ano passado. Muito embora os governistas continuem defendendo o mandato de Dilma, as diversas correntes do partido já se entenderam em torno da recondução do vice Michel Temer, em convenção nacional marcada para sábado.
A conversa de Picciani com o mercado financeiro mostra o realismo com que o líder do PMDB encara a situação do governo. Hoje a cúpula do partido está mais preocupada com a ala que quer romper com Dilma, na convenção de sábado, do que com os governistas. Até o início do ano o quadro no PMDB, o fiel da balança na hipótese de votação do impeachment, era exatamente o contrário.
Nos últimos dias cresceu o movimento pelo rompimento com o governo Dilma, principalmente nas seções do Sul do país. Se a resolução for votada, pode ser aprovada. Uma saída intermediária seria a declaração de voto de independência em relação ao governo, o que permitiria que os ministros do PMDB ancorassem em seus cargos.
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