Alguém precisa explicar a Dilma Rousseff que ela já está suficientemente atolada nos problemas políticos que ela própria cria e por isso deve evitar fazer o que só agrava esses problemas: falar em público. Os embaraços de Dilma com as ideias e com a Língua Portuguesa já se incorporaram ao anedotário. Mas, muito pior do que a questão da forma, é a do conteúdo. Quanto mais se afunda no desprestígio e na falta de credibilidade, mais Dilma Rousseff se esmera em produzir pérolas como esta: “A oposição tem absoluto direito de divergir, mas não pode, sistematicamente, ficar dividindo o País. Não pode. Sabem por quê? Porque tem certo tipo de luta política que cria um problema sistemático não só para a política, mas, também, para a economia e afeta a criação de emprego, o crescimento das empresas e ninguém fica satisfeito quando começa aquela briga”.
Não ficam claros, nesse discurso pretensamente pedagógico, quais os limites, a juízo da presidente da República, a que a oposição não pode ir no exercício de seu “absoluto direito” de divergir. Para começar, o direito de divergir – como qualquer outro – ou é absoluto ou tem limites, de modo que Dilma acaba proclamando mais uma bobagem retórica. Duas coisas parecem implícitas em sua fala: que a oposição é a responsável pela atual crise e que o limite para a divergência é o ponto em que ela começa a servir só para “ficar dividindo o País”. Mas aí Dilma fala de si mesma, de seus correligionários e, principalmente, de seu patrono Lula, porque são eles os grandes responsáveis pela divisão do País entre “nós”, os bons, e “eles”, os maus, que impôs à luta pelo poder um maniqueísmo que exclui fator indispensável à construção de uma sociedade genuinamente democrática: a racionalidade.
A fala de Dilma no comício de entrega de casas populares em Caxias do Sul, na manhã de segunda-feira, marcou também mais uma mudança de rumo na postura política da presidente em relação a seu padrinho Lula. Dilma aproveitou a ida ao Sul para, de passagem por São Paulo, visitar o ex-presidente em São Bernardo do Campo e prestar-lhe solidariedade depois da “truculência” de que ele fora vítima na sexta-feira por parte da Polícia Federal (PF). Dilma, de alguma forma, se convenceu de que, depois das revelações do senador Delcídio Amaral, ela se tornou especialmente vulnerável à Lava Jato, com a agravante de que tem a perder o mandato de presidente da República.
Dilma voltou do Sul disposta a se colocar, quem diria, na linha de frente da defesa de seu padrinho, coisa que até agora tentava evitar, talvez em respeito à sua investidura na Presidência da República. Politicamente, a nova postura de Dilma faz sentido. Afinal, agora mais ameaçada de ser cassada do que nunca, a quem poderia recorrer, senão àquele que teoricamente ainda é seu partido e ao líder, seu padrinho, que apesar de contar hoje com menos de um quarto do apoio popular que já teve ainda é figura destacada da política brasileira? É um apoio que certamente custará caro, mas essa é outra história.
O desespero, portanto, justifica o comportamento de Dilma em Caxias do Sul, onde apresentou ao País uma faceta até então desconhecida do ex-presidente: “Ele nunca se julgou melhor que ninguém, justiça seja feita”. A pupila certamente ficou impressionada com a versão dada pessoalmente pelo mestre sobre os “abusos” da PF, embora ele tenha provavelmente omitido a parte em que tentou impor aos policiais – depois foi dissuadido por seu advogado – a condição de só acompanhá-los se fosse algemado. Esperteza que provavelmente resultaria inútil, porque, ao contrário do que os petistas alegam ter sido a intenção da PF, já haviam sido tomadas todas as providências para impedir, como efetivamente aconteceu, que o transporte de Lula até Congonhas se transformasse num “show midiático”.
A esta altura do desespero, porém, a Lula, a Dilma e ao PT não interessam os fatos, mas a versão de que são vítimas de uma conspiração da “direita” apoiada pela “mídia golpista”. Dilma, porém, não é a pessoa com maior competência e credibilidade para defender essa versão. Tanto assim que, dispondo a cada dia de menos espaço político para manobrar e estando cada vez mais isolada, procura Lula para com ele embolar-se no abraço dos afogados. Se tivesse um mínimo de grandeza, renunciaria ao cargo. A Nação agradeceria.
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