- Folha de S. Paulo
Desde que se reelegeu, a presidente Dilma Rousseff teve algumas oportunidades de precaver-se do furacão que se formava à sua frente. A rota da tentativa de salvamento passava pelo distanciamento de Lula e do PT, pela costura de maioria de centro-direita no Congresso e pela virada na política econômica.
Os ensaios nessa direção, em especial o arranjo que trouxe Joaquim Levy para a Fazenda e Michel Temer para a articulação política, ruíram porque Dilma não os bancou até as últimas consequências. Ela comprovou, nesses episódios e ao longo desta crise, tratar-se de um dos piores presidentes em 126 anos de República.
No país em que grande parte da elite escolarizada considera "meras pedaladas" os assaltos contra princípios democráticos do Orçamento, Dilma tinha um trunfo. Nem seus adversários a acusavam de beneficiar-se pessoalmente da corrupção.
Nesse quadro, trazer para o centro do governo a figura estropiada de Lula da Silva, preocupado apenas com salvar a própria pele, era tudo o que Dilma deveria evitar.
Acolher o ex-presidente seria transformar o Planalto num escritório dedicado a embaraçar investigações criminais. Configuraria o ato cabal de isolamento do governo em relação seja às outras instituições do Estado, seja ao sentimento inequívoco da esmagadora maioria da sociedade.
O estrago está feito. Dilma pôs-se no vértice de uma ofensiva para obstruir a Justiça. As conversas gravadas de Lula e acólitos do PT com interlocutores do governo denotam um grau de violência contra a arquitetura republicana raramente registrado na história do Ocidente moderno.
O final dessa tragédia shakespeariana está próximo. Não se sabe se vai parecer-se mais com "Macbeth", em que nobres escoceses restauram o trono do país, ou com "Hamlet", que não deixa nenhum dinamarquês vivo para assumir a coroa.
Michel Temer está de pé. Por enquanto.
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