Mostram-se apaixonadas e enfáticas, em vários setores da sociedade brasileira, as opiniões a favor e contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT).
Como se sabe, as redes sociais têm o efeito de intensificar as convicções de cada um, e o fenômeno produz inclusive a impressão distorcida de que o país se encontra às vésperas de um conflito radical.
Exceção feita a alguns breves incidentes, nada indica, até o momento, que se esteja diante de um quadro capaz de trazer riscos à segurança pública e à paz social.
A própria assimetria entre os grupos parece contribuir para que não se desencadeiem enfrentamentos de grandes proporções. Como mostrou o Datafolha, 68% da população defende o impeachment, enquanto 27% são contra.
Cumpre zelar, ainda assim, pelo máximo de serenidade e de respeito pela opinião alheia no atual ambiente político. Os eventos ocorridos na PUC-SP na segunda-feira (21), portanto, inspiram cuidado.
Foram poucos os envolvidos, por certo: num trio elétrico, estudantes daquela universidade protestavam contra a corrupção. Logo se formou um contingente de cerca de 30 outros alunos, reagindo à manifestação antipetista. Do alto do prédio, atiraram-se objetos na direção dos alunos pró-impeachment e da Polícia Militar, que os vigiava.
A PM reagiu como de hábito. Usou cassetetes, gás de pimenta e balas de borracha, avançando muito além do que seria preciso, ou mesmo legítimo, para conter os ânimos mais exaltados.
Dias antes, um comício a favor de Lula em Diadema, na sede do sindicato dos metalúrgicos da região, também sofreu uma bizarra intervenção policial; sem maiores consequências, a investida não deixou de trazer tensão a um ato político pacífico.
Pela repetição de excessos como esses, e pelo clima de forte excitação política que acomete parcelas da sociedade, cabe insistir no óbvio. O direito de manifestação pacífica está consagrado na Constituição, mas o recurso à violência física por parte de quem protesta deve ser contido e reprimido pelas forças de segurança.
O alerta vale inclusive para os atos realizados na avenida Paulista. A ação da PM se fará necessária sempre que houver perturbação da ordem ou interrupção, sem aviso, da livre circulação do trânsito.
Tanto a Polícia Militar, notoriamente despreparada para lidar com manifestantes, como também estes, quaisquer que sejam suas convicções, têm uma responsabilidade fundamental para com o sistema democrático e com os direitos de cada cidadão.
Como nunca, impõe-se garanti-los, sem incidentes que venham a agravar o clima, apaixonado, mas pacífico, que predomina no país.
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