Por Raymundo Costa e Leandra Peres – Valor Econômico
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto sofreu uma nova derrota no PMDB, ao desencadear uma ampla ofensiva para adiar a reunião do Diretório Nacional, marcada para o dia 29, a fim de decidir se o partido fica ou desembarca do governo. A tendência é pelo rompimento, apesar de o governo ter aberto uma nova rodada de negociações de cargos com os setores aliados da legenda. A maior dificuldade do PMDB está sendo devolver os cargos no governo, inclusive os sete ministérios que dispõe na Esplanada.
Apesar dos sinais enviados pelo governo, não há um encontro agendado entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Michel Temer (PMDB). Semana passada, quando foi nomeado ministro da Casa Civil, Lula disse a Temer que gostaria de conversar esta semana. Mas não voltou a se manifestar. Temer, por seu turno, fez chegar ao ex-presidente que talvez seja melhor esperar a decisão do PMDB, no dia 29.
A tentativa do adiamento da reunião pemedebista foi comandada pelo ex-presidente Lula, do lado do governo, e pelo líder do PMDB na Câmara dos Deputados, Leonardo Picciani (RJ). A reunião do Diretório Nacional para o dia 29 foi convocada por 14 diretórios regionais do partido, que se manifestaram contrários ao adiamento. Também já foi publicada o edital com a convocação para a reunião às 15h da terça-feira.
Deputados do PMDB reclamam de que o ex-presidente Lula tem concentrado as conversas com o partido no Senado, mas apontam que a votação do impeachment será primeiro na Câmara e que dificilmente o processo será interrompido pelos senadores.
Há ainda uma tentativa de fazer um "desembarque organizado" do partido. A ala mais próxima ao governo defende que mesmo no caso de um rompimento, os ministros tenham uma data mais elástica para deixarem seus cargos. A proposta ainda seria discutida em jantar do vice-presidente com a cúpula do PMDB ontem à noite.
A medida que o impeachment avançou na comissão especial da Câmara, o Planalto intensificou a pressão sobre a ala governista. A presidente Dilma Rousseff reuniu-se anteontem à noite com os sete ministros do PMDB para armar uma estratégia para mudar votos no partido.
Os ministros foram autorizados a negociar cargos no governo, assim como o líder na Câmara, deputado Leonardo Picciani (PMDB-RJ). O deputado foi um dos que pediram publicamente o adiamento da reunião do diretório para o dia 12 de abril. Ontem, ao longo do dia, os sete ministros pemedebistas tiveram uma reunião entre si e iriam conversar com o vice Michel Temer.
No Senado, onde o presidente da Casa, Renan Calheiros, chegou a considerar golpe o impeachment tendo como motivo as pedaladas fiscais, a ideia do adiamento ganhou adeptos mesmo entre os que consideram o afastamento da presidente Dilma Rousseff um fato consumado. A ideia é que o governo só tem a perder com a prorrogação do prazo definido pelo PMDB.
Na realidade, o senador Renan Calheiros aos poucos vai se isolando na defesa da presidente Dilma. Ontem, Renan se reuniu com os ex-presidentes José Sarney e Lula no fim da manhã e foi na volta do encontro que insistiu na necessidade de um fato material que justifique o impeachment. Na noite de segunda-feira, em conversas, os senadores pemedebistas decidiram que não vão opor nenhum resistência, enquanto o processo de impeachment correr na Câmara, ou se contrapor ao julgamento da presidente Dilma Rousseff, se a autorização for concedida pelo plenário da Câmara dos Deputados por 342 votos.
O próprio Renan deixou a entender, no fim do dia de ontem, que não deve ser obstáculo, ao ser questionado se ficaria na frente de uma onda gigante vinda da Câmara dos Deputados. Entre os senadores do PMDB, o líder da bancada, Eunício Oliveira (CE), já diz que impeachment é uma decisão política. "Até numa empresa se ouve os técnicos, mas a decisão no fim é política", diz. O senador Romero Jucá (RR), que não se opunha a um adiamento na decisão do PMDB, já compõe o grupo que tenta viabilizar um eventual governo de Michel Temer.
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