• Sinal de confiança vem do câmbio e desmonte de swaps
- Valor Econômico
O presidente do Brasil é novo, mas vem do governo velho que cometeu erros econômicos - alguns por diagnóstico - o que torna urgente e audaciosa a tarefa de Michel Temer de reequilibrar a economia. Na melhor hipótese, o presidente interino terá dois anos para isso. Entretanto, o afastamento de Dilma Rousseff por até 180 dias, pela aprovação da abertura do processo de impeachment no Senado, enxuga o calendário e impõe desafios à agenda.
Na atual fase do processo de impeachment, Temer tem um round para mostrar a que veio. E outro - a depender da aprovação definitiva do afastamento de Dilma - para angariar prestígio e concluir o mandato que expira em 31 de dezembro de 2018.
É grande a expectativa que cerca o novo governo que dá hoje um passo importante com o anúncio formal dos integrantes da equipe da Fazenda pelo ministro Henrique Meirelles. A Fazenda dispõe de várias secretarias e algumas de alta relevância para a gestão pública, caso da Secretaria da Receita Federal e da Secretaria do Tesouro Nacional. Meirelles deve anunciar, hoje também, os novos presidentes do Banco do Brasil e da Caixa.
É arriscado contar com uma forte reação do mercado financeiro à equipe econômica do governo interino. E há motivo para isso. Há tempos agentes financeiros transferem sobretudo para câmbio e juros a possibilidade de a presidente ser definitivamente afastada por crime de responsabilidade. Ainda não está embutido nos preços dos ativos financeiros, porém, o crédito de confiança na equipe em construção.
O ministério de Michel Temer está lotado de políticos. A preferência do presidente interino parece ter a saudável preocupação de manter por perto, e bem informado, o Congresso Nacional porque dele dependerá a aprovação de medidas para que ocorra o ajuste fiscal. Mas essa necessidade não autoriza o presidente interino a esgotar sua comunicação com parlamentares.
Um empresário do setor financeiro, em conversa com a coluna na semana passada, sugere que Michel Temer tenha sua própria "Carta aos Brasileiros". A ideia tem como referência o documento lançado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no início da década de 2000, comprometendo-se a dar continuidade às medidas positivas que herdaria do seu antecessor, no Palácio do Planalto, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Mas Michel Temer não é Lula e dele se espera blindagem contra o assédio político. Sem dúvida, um compromisso e tanto ao considerar o elenco de políticos que compõem o seu ministério.
À coluna, o empresário que pediu para manter o anonimato disse que a "Carta aos Brasileiros" do presidente interino Michel Temer deve ser o compromisso de não se candidatar às eleições de 2018. Escolado por tantas idas e vindas dos últimos governos, o empresário afirma que "se colocar como não candidato" é pouco. "Temer precisa demonstrar essa determinação - que pode evitar casuísmos - enviando ao Congresso uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) pela não reeleição do presidente da República.
O entrevistado está convencido de que uma atitude que dará consistência ao governo Temer é ele assumir o papel de "presidente da transição". "A economia ajustada para uma nova fase deve ser o legado deste governo interino", diz o empresário. Ele recorda que o legado de Lula foi governar pela inclusão social, distribuição de renda, enquanto o legado de FHC ou do Plano Real é o "não à inflação".
O empresário não vê o Brasil avançando sem uma reforma política. "O Brasil não pode ter duas dúzias de partidos políticos, no mínimo, porque não consegue formar maioria no Congresso. E essa dificuldade é a origem do mensalão e do petrolão. Um partido interessado em facilitar o caminho, decidiu pagar por apoio de políticos, depois de empresários. A Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, tornou-se um problema para o país ao lado de erros econômicos. A Lava-Jato tornou a classe política disfuncional."
O entrevistado insiste que não defende o fim da operação ou olhos fechados para os crimes, "mas não estamos livres de um outro partido, que não o PT, optar pelo mesmo futuramente. Michel Temer deverá ficar ainda mais vigilante porque deverá governar por 2 com os políticos disfuncionais que temos hoje".
O interlocutor da coluna não vê graves distúrbios econômicos no Brasil. "O maior problema do Brasil em situações de crise chamava-se câmbio. Nos livramos desse problema. Em dois anos, as contas correntes terão passado por um ajuste de US$ 100 bilhões e isso é extraordinário."
O fortalecimento do real na comparação com o dólar "é o sinal da transição de governo porque demonstra confiança na reconstrução", diz o empresário que tem opinião idêntica para o retumbante sucesso do Banco Central no desmonte do estoque de contratos de swap cambial. "Se o BC tirou de mercado mais de US$ 40 bilhões em swaps desde março e esses contratos eram usados principalmente para hedge de empresas, as que devolvem esse hedge gritam para o governo que confiam no Brasil."
O estoque de swaps chegou a US$ 114 bilhões e, desde o fim de março, vem caindo com atuações do BC. Hoje supera ligeiramente US$ 65 bilhões. "Se o BC estiver disposto, poderá levar a zero esse estoque, o que não sugere fragilidade cambial. Só pelo fato de o estoque cair tanto, o BC fica com uma espécie de reserva de instrumento se precisar voltar ao mercado com hedge cambial. Precisamos reconhecer que não temos sob controle turbulências externas."
O Brasil tem um problema fiscal não desprezível com a atividade econômica em queda. "O ajuste é mais difícil. O governo precisa garantir arrecadação imediata e sinalizar reformas estruturais. Mas se ficar preso à reforma da Previdência, pode perder credibilidade porque o retorno seria muito lento", diz o empresário que vê na CPMF pré-datada um caixa emergencial que autorize o governo a fazer algum corte de gastos. "Vamos lembrar que a equipe econômica em montagem fala coisa com coisa. Logo pode despertar alguma simpatia pelo ajuste."
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