• Análise de falas e entrevistas dos principais integrantes do novo governo mostra divisão clara de temas
Fábio Vasconcellos - O Globo
Nos dias que antecederam a decisão do Senado pelo afastamento da presidente Dilma Rousseff, as atenções do Brasil estiveram voltadas para dois endereços do poder em Brasília. No Palácio do Planalto, a presidente apresentou, em eventos quase diários, inúmeros discursos contra o impeachment. Não muito distante dali, no Palácio do Jaburu, o então vice-presidente e hoje presidente interino Michel Temer recebia aliados. Na agenda, conversas sobre nomes do seu futuro ministério e as primeiras medidas, caso viesse a assumir.
No contexto de crise política e econômica, nunca se falou tanto na capital federal como na última semana. Com tantos discursos, uma constatação. O novo núcleo duro do governo tem buscado um alinhamento nas suas falas, com uma divisão bem clara sobre os temas de economia e política que cabem a cada um.
Antes da posse dos nova equipe, o Núcleo de Dados do GLOBO analisou como os integrantes do núcleo duro se posicionam publicamente. Para isso, foram reunidas entrevistas e artigos escritos na imprensa, nos últimos 15 dias, pelos ministros Romero Jucá (Planejamento), Henrique Meirelles (Fazenda) e do coordenador de Infraestrutura, Moreira Franco. Foi incluída também uma entrevista concedida pelo presidente Temer.
Foco na economia
O estudo utilizou um software de análise de discurso baseado em resultados estatísticos que leva em consideração não só a frequências das palavras mais comuns utilizadas pelo comando do atual governo, como também o grau de associação entre essas palavras. Os resultados formam grupos mais consistentes estatisticamente e que podem ser utilizados para interpretar os discursos de Temer, Jucá, Franco e Meirelles.
A análise indica que os discursos do núcleo duro foram formados por três grupos de palavras, um relativo ao tema da economia, que concentrou 39% das palavras mais associadas; um segundo focado em política, que concentrou na defesa das críticas que Temer recebeu do PT ou de integrantes do governo Dilma, e um terceiro, também de política, mas explicitamente associado à formação da base parlamentar e distribuição de cargos no novo governo. Essas três temáticas acabaram por antecipar a fala de Temer, durante a sua posse na quinta-feira. Uma forte ênfase na questão econômica e no desenvolvimento e também falas direcionadas ao Congresso Nacional, de que o presidente dependerá para aprovar medidas nesses primeiros meses.
Dois gráficos em forma de aranha reúnem não apenas as palavras mais frequentes, como aquelas com forte associação estatísticas entre os discursos. No tema político de defesa do governo, prevalecem termos como “Temer”, “não”, “social”, “dificuldade”, “respeito” entre outros. Essas palavras constituem argumentos que a equipe de Temer procurou apresentar quando foram acusados de quererem reduzir programas sociais. Já no tema econômico, prevaleceram as palavras como “investimento”, “economia”, “crescimento”, “país” entre outros.
A análise também permite compreender como Temer, Jucá, Meirelles e Moreira Franco estiveram mais ou menos próximos desses três temas. Novamente, prevaleceu um alinhamento quase perfeito. O ministro da Fazenda foi o maior responsável pelos discursos de economia, enquanto Jucá e Moreira Franco focaram na defesa do governo. A Temer coube o discurso mais institucional, com referência a termos como a formação do Ministério ou declarações sobre a espera da decisão do Senado Federal.
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