• Defesa petista compara ‘pedaladas’ com denúncia de propina contra Temer
Cristiane Jungblut, Júnia Gama e Simone Iglesias - O Globo
-BRASÍLIA- Senadores contrários à presidente afastada, Dilma Rousseff, e seus defensores se revezaram ontem na tribuna do Senado, duelando sobre os elementos técnicos e políticos do processo. Ao defender seu parecer pelo impeachment, Antonio Anastasia (PSDB-MG) disse que a petista agiu em “claro benefício político-pessoal”. Ele teve 30 minutos para sustentar seu relatório, durante a fase do processo que definiria se Dilma se torna ré.
— A presidente pretendeu dar continuidade a práticas manifestamente ilegais para sustentar politicamente o início de seu segundo mandato. Agiu, portanto, em claro benefício político-pessoal. Afinal, não seria palatável, em tão pouco tempo, reconhecer que muito do que fora dito até então não passava de um conto de fadas — disse Anastasia.
Para o senador, o que está levando ao impeachment foram as mudanças sob qualquer ângulo do Orçamento sem autorização do Congresso, o que demonstra “profundo desprezo pelo Parlamento”. Ele criticou a defesa de Dilma por alegar que houve um “conluio” para afastá-la do cargo.
— Imaginar um conluio no âmbito desta Casa envolvendo os senadores vai às raias do desrespeito — disse o tucano.
Único a discursar na bancada do PSDB, o senador Aécio Neves (MG), presidente do partido, afirmou que, após o julgamento do impeachment, a sensação de “impunidade” deixará de predominar:
— Nenhum brasileiro, em especial o presidente da República, está acima da lei . Acredito que algumas lições ficarão deste episódio. Uma delas é que a sensação de impunidade que imperava em todos os escalões do antigo governo não terá mais espaço — afirmou.
Um dos autores da acusação de impeachment, o jurista Miguel Reale Junior foi irônico ao comentar a tentativa dos aliados da petista de querer suspender a sessão do Senado por causa de denúncias envolvendo o presidente interino, Michel Temer, na Operação Lava-Jato.
— Seria muito bom que os seus partidários trouxessem para dentro do impeachment a Lava-Jato. A participação da presidente como a madrinha dos diretores da Petrobras, ela conhecedora dos fatos. Que bom seria! Vamos pegar o fato recente do seu marqueteiro dizendo que ela não só sabia da propina da Petrobras, como ela organizou que a propina do PT alimentasse a campanha no Brasil e no exterior. O que é mais grave? — disse Reale.
Em defesa de Dilma, os senadores do PT discursaram em peso e tentaram atrasar a sessão com manobras protelatórias. Eles atacaram o governo do presidente interino, Michel Temer. O líder do PT, senador Humberto Costa (PE), argumentou que seria “surreal” afastar Dilma definitivamente e colocar Temer, também alvo de denúncias, no lugar.
— O produto de propina tem que ser investigado e analisado. Que se determine a conversão do processo em diligência. Quem, em sã consciência, será capaz de votar pela cassação da presidente que está sendo julgada por três decretos e pelas “pedaladas fiscais” para que fique à frente do Executivo alguém que é vítima de graves acusações? — disse Costa.
Antes do início da sessão, o advogado de defesa, José Eduardo Cardozo, disse esperar que a verdade seja restabelecida.
— Não temos cartas na manga, temos a verdade — disse Cardozo.
José Pimentel (PT-CE), que foi líder do governo Dilma no Congresso, destacou a participação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) no processo.
— Esse processo de impedimento foi motivado pelo mais baixo sentimento de vingança. O ex-presidente Eduardo Cunha aceitou o impeachment apenas em retaliação à posição do PT contra ele no Conselho de Ética — resumiu.
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