• À frente da sessão, ministro frustra as tentativas de obstrução do julgamento e chega a cortar o microfone de Gleisi Hoffmann
Cristiane Jungblut e Simone Iglesias - O Globo
-BRASÍLIA - Indicado pelo ex-presidente Lula e considerado um dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) mais próximos do petista, o presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, foi um dos responsáveis ontem por inviabilizar a estratégia do PT, que pretendia adiar o julgamento da presidente afastada, Dilma Rousseff. À frente do processo de impeachment nesta fase final, Lewandowski frustrou todas as tentativas de obstruir a sessão.
Sereno, mas com mão de ferro, o presidente do STF entrou num plenário ainda esvaziado às 9h05m. Petistas admitiam em conversas que a presença de Lewandowski inibiu a estratégia deles, marcada por discursos acalorados e agressões nas sessões da comissão do impeachment.
Logo no inicio da sessão, o presidente do STF avisou que seria rigoroso no tempo concedido aos parlamentares e técnico na avaliação dos pedidos, que já começavam a ser encaminhados por PT e PCdoB. Lembrou seu papel constitucional e legal de conduzir os trabalhos, sem emitir “opiniões ou juízo de valor”. Em discurso, pediu que os senadores julgassem com suas consciências. E leu o cronograma de procedimento acertado semana passada.
— O Senado está aqui para exercer uma das mais graves atribuições que a Constituição lhe acomete. A magna função de juízes e juízas da causa é atuar com independência, pautando-se exclusivamente pelos ditames das consciências e pelas normas legais. Não cabe a ele (presidente do processo de impeachment) intervir nas discussões ou emitir opiniões ou juízo de valor — disse Lewandowski.
Logo de início, o presidente do STF negou os pedidos mais importantes, apresentados pelos senadores Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e Humberto Costa (PE), líder do PT no Senado, que queriam a suspensão do processo ou sua transformação em diligência até o fim das investigações relativas à Operação Lava-Jato. Lewandowski considerou os temas “estranhos” ao processo de impeachment. Também rejeitou questão de ordem do senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que queria a suspensão da sessão com os mesmos argumentos.
— Não se poderia por meio de uma questão de ordem pleitear a suspensão da sessão para realização de diligência. A fase de instrução já terminou — alegou Lewandowski.
As sessões do Senado, normalmente regidas por acaloradas discussões e disputas de senadores com o presidente da Casa, tiveram ontem nova dinâmica. As senadoras Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), aliadas de Dilma, insistiam em apresentar argumentos para obstruir a sessão. A situação chegou ao ponto de Lewandowski desligar o microfone de Gleisi. A senadora havia superado seu tempo de fala, mas quis continuar.
— Tenho que pedir escusas por ser tão rigoroso com o tempo — disse ele. — Muito bem, mas a senhora está sem áudio.
O mesmo ocorreu horas depois, quando a senadora Kátia Abreu (PMDB-TO), também aliada de Dilma, superou os cinco minutos estipulados por Lewandowski para discursar. Novamente, ele cortou o microfone.
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