• O prefeito eleito deve saber que teve menos votos que a soma dos sufrágios de Freixo, com os anulados e os em branco, e isso significa que ganhou por exclusão
Ponta de lança de antigo projeto evangélico de ter representantes eleitos no Executivo e atuar nas entranhas do poder, estratégia em que se destaca a Igreja Universal, o bispo licenciado Marcelo Crivella, do PRB, é o primeiro deles a chegar mais alto.
Senador, ministro da Pesca de Dilma Rousseff, contra quem votou no processo de impeachment, Crivella conseguiu, enfim, despir-se, em alguma medida, da imagem de “bispo” e apresentar-se como político, para vencer a eleição municipal na segunda cidade do país, depois de duas tentativas frustradas.
Deve ter aprendido lições nessas derrotas, assim como precisará entender por que venceu, para conseguir governar com chances mínimas de êxito. A abertura a parcerias “laicas” já é bom sinal, embora nesse pacote tenha aceitado alianças que podem prejudicá-lo ao induzi-lo a aderir a práticas populistas clássicas no Rio e no estado. Será mais do mesmo.
Não tira, por óbvio, a legitimidade da sua vitória, mas o enorme índice de “não votos” (41,5%), mais que o 1,7 milhão que o elegeu, indica que Crivella ganhou por exclusão. Considerando apenas nulos e brancos, em que fica evidente a decisão do eleitor de rejeitar os candidatos, chegou-se a 20% dos votos. Não é pouca coisa.
Um encadeamento de fatos ajudou o candidato do PRB. A escolha de Pedro Paulo, feita pelo prefeito Eduardo Paes num rompante de arrogância — mesmo sendo alertado que a denúncia documentada de que o ex-secretário e deputado espancara a mulher era ferimento mortal na candidatura —, se somou à incapacidade de Marcelo Freixo de se livrar da imagem de radical. Talvez fosse mesmo impossível para Freixo se afastar dela. E o resultado foi a vitória de Crivella.
Em entrevista ao GLOBO, Freixo rejeitou a crítica. Mas, além de permitir relações perigosas do seu gabinete com black blocs nos idos das manifestações de 2013 e 14 — quando instalou um telhado de vidro e o colocou à disposição de adversários, como seria Crivella nas eleições —, não foi boa ideia subir no palanque da Lapa, no fim do primeiro turno, para declarar-se dono da cidade — quando ninguém oé — , ecoar o “Fora, Temer” e bater na tecla do “golpe”. Na campanha, Jandira Feghali (PCdoB) deixou Dilma aparecer no palanque e se autodissolveu. Era um aviso.
Na ponta do lápis, Crivella tem contra si a maioria do eleitorado, se somarmos os votos de Freixo com os nulos e brancos. Isso, numa visão benéfica para o prefeito eleito, segundo a qual as abstenções não tiveram motivação políticopartidária. Mesmo assim, o senador fica mais de 180 mil votos abaixo desta soma.
Carioca, Marcelo Crivella precisará, para se contrapor a esta realidade, sintonizar-se com o espírito de sua cidade: ecumênica, sincrética, festeira.
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