Daniel Carvalho – Folha de S. Paulo
RECIFE - Responsável por encerrar a última esperança que o PT tinha de comandar uma capital do Nordeste ao ser reeleito com 528 mil votos (61,3% dos votos válidos), o prefeito do Recife, Geraldo Julio (PSB), vai defender internamente que seu partido lance candidato próprio à Presidência em 2018.
O prefeito diz rejeitar ser vice em uma eventual candidatura do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), e garante que ficará no cargo até o final de 2020. Em entrevista à Folha, Julio disse não ter "nenhuma relação" com o presidente Michel Temer e afirmou que as eleições deste ano não foram "só dos conservadores".
• Folha - Qual sua opinião sobre candidatura própria a presidente em 2018?
Geraldo Julio - A gente deve repetir o que fez em 2014 e apresentar um projeto para o país, apresentar uma candidatura à Presidência.
• O sr. consegue ver algum nome hoje?
Antes de discutir o nome, precisamos discutir a possibilidade, unificar a posição no partido. Vou levar [às instâncias partidárias] a ideia de que a gente deve ter candidatura [em 2018].
• O sr. cumpre seu mandato até o final de 2020?
Sem dúvida.
• Mas já há rumores de que, em busca de espaço no Nordeste, o governador Geraldo Alckmin poderia recorrer a um nome local para a vice dele na disputa presidencial e poderia ser o sr.
Não. Não existe essa conversa. Vou manter meu compromisso de governar a cidade por quatro anos.
• Qual a sua relação atual com o presidente Michel Temer? Quais as demandas que o sr. pretende encaminhar a ele?
Não tenho nenhuma relação com o presidente Michel Temer e levo para ele todas as demandas que a cidade tiver, através dos ministérios, das reuniões que nossos secretários têm.
• Mas quais as prioridades?
Tocar os contratos que existem. Contratos de calçadas, necessidade de credenciamento do Hospital da Mulher, vamos apresentar o Hospital do Idoso, temos algumas ações na área de mobilidade... A parceria administrativa é independente da relação política que a gente tem com o governo federal.
• Neste contexto de crise, como o sr. pretende suprir a necessidade de caixa da prefeitura?
Nestes últimos três anos, o Brasil já estava em crise. Criei a Controladoria-Geral do município, um portal da transparência que ajuda no controle social da despesa. Estamos controlando despesa o tempo inteiro, tentando reduzir o que pode ser reduzido. Por outro lado, [estamos] criando receitas extraordinárias, capturando mais dívida ativa, criando formas de financiamento, mecanismos internacionais, buscando convênios. Queremos repetir isso nos próximos anos com a expectativa, claro, de que o Brasil possa ter a retomada do crescimento. O governo federal tem a obrigação de fazer o país voltar a crescer, precisa cumprir com essa obrigação.
• Haverá aumento de imposto?
Não. A gente não está com essa orientação.
• Como o sr. avalia essa guinada conservadora no país, a ascensão de não políticos e a sua eleição neste contexto?
Nossa eleição é a de um conjunto político que tem compromisso com as camadas mais necessitadas da população. Sou de um partido liderado por Miguel Arraes, por Eduardo Campos, que sempre tiveram a história de estar comprometidos com os mais necessitados. Nossa frente política tem exatamente isso. A eleição não foi só de conservadores. Tem também muita gente progressista que ganhou.
• Como o sr. avalia a situação do PT não só no Estado, mas no Nordeste?
Os dados numéricos fazem essa avaliação. O PT perdeu mais de 60% das prefeituras [no país].
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