Estelita Hass Carazzai – Folha de S. Paulo
CURITIBA - De volta à Prefeitura de Curitiba depois de 20 anos, o prefeito eleito Rafael Greca (PMN) atribuiu o alto índice de abstenção nestas eleições à derrota das "bandeiras e ideologias pulverizadas pela Operação Lava Jato".
"Há uma desilusão de pessoas que idealizavam a política e viram seus ídolos desmoronarem", disse, em entrevista à Folha.
Greca, 60, que já passou pelo PDT, PFL e PMDB e foi ministro no governo FHC, afirmou que partidos nanicos como o PMN, pelo qual se elegeu, são "uma alternativa não ideológica" ao eleitor.
Depois de ver sua campanha desidratar no primeiro turno ao declarar que "vomitou com cheiro de pobre", ele atribuiu sua eleição "à inteligência do povo de Curitiba".
• Folha - A que o senhor atribui sua vitória?
Rafael Greca - À inteligência do povo de Curitiba. Que soube perceber a importância da experiência, da boa formação urbanística e de engenharia, para enfrentar esse momento de crise.
• O que levou tantos eleitores a não votarem, ou optarem pelo nulo ou branco?
Primeiramente, o grande feriado decretado aqui em Curitiba pelo atual prefeito [Gustavo Fruet, do PDT].
Mas também a desilusão com a política. Certamente eram pessoas que empunhavam bandeiras mais vermelhas, pulverizadas pela Lava Jato. Pessoas que idealizavam a política e viram seus ídolos desmoronarem e serem encarcerados com a Lava Jato.
• Preocupa o aumento de protestos contra o governo Temer, inclusive com ocupações de escolas?
Não me compete comentar. As medidas que estão sendo aprovadas pelo Congresso são pensadas na perspectiva do saneamento das finanças públicas. O funcionalismo público, na sua parcela mais inteligente, já refletiu que é melhor ter menos privilégios e ter salário do que não ter salários e continuar com privilégios nominais.
Mas eu não gostaria de falar do nacional. Eu quero falar de Curitiba. Vocês me submetem a questionários exaustivos e não falam disso. Eu vou focar todas as minhas energias para que Curitiba dê certo e se transforme num exemplo para o Brasil.
• O sr. é de um partido pequeno, assim como os prefeitos eleitos de Rio e Belo Horizonte. Os nanicos ganham nova força?
Eles cumpriram sua função de não trazer para a eleição as bandeiras rotas na Lava Jato.
Eu tenho orgulho do PMN, porque a doutora Telma Ribeiro dos Santos [fundadora do partido], no momento em que lhe foi oferecido poder no governo federal, mas atrelado às práticas do mensalão, ela rompeu com o presidente Lula. Foi uma grande brasileira.
Esses partidos menores funcionam mais ou menos como isso. São uma alternativa não ideológica. Às vezes o embate ideológico infelicita a administração municipal.
• Em relação à sua futura gestão, qual será a menina dos olhos entre suas propostas?
A que está nos lábios do povo, a saúde. As pessoas dizem: se só fizer isso para nós, já está suficiente. E isso significa chegar no posto de saúde e encontrar médico, enfermeiro e remédio. Ter agente comunitário de saúde. Não condenar uma pessoa a esperar três anos por um exame.
• Isso não depende de investimento? As prefeituras estão em meio à crise econômica.
Isso depende de vontade, de serviço. Coisa que faltou no Brasil. Vontade de servir.
Por exemplo, na área urbanística, propus o Vale do Pinhão, é um projeto muito menos de construção e muito mais de fomento econômico. Nós vamos usar áreas deprimidas da cidade, como o centro histórico, e implantar condomínios de jovens voltados para a indústria de tecnologia de informação e para a economia criativa.
Quando eu baixo o ISS de 5% para 2% a quem investir em Curitiba, eu estou fazendo algo que é muito mais de vontade do que de despesa.
• O sr. foi eleito prefeito pela primeira vez em 1992. São cenários muito diferentes, não?
Não, porque foram dois momentos de grande aflição econômica. Até vir a tranquilidade do real, governei numa situação de tanta adversidade quanto hoje, se não mais. Se está difícil para o Gustavo Fruet, deixa que eu faço.
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