Por André Guilherme Vieira - Valor Econômico
SÃO PAULO - O ex-ministro Antonio Palocci era o principal interlocutor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com empresários e intermediava o abastecimento de campanhas eleitorais. A afirmação foi feita pelo ex-líder do governo Dilma Rousseff no Senado e delator da Operação Lava-Jato, Delcídio do Amaral, em novo depoimento prestado à força-tarefa de Curitiba no dia 11 de outubro. As declarações de Delcídio serão usadas para instruir a acusação feita pelo Ministério Público Federal (MPF) contra Palocci.
"Antonio Palocci tinha uma tarefa bem determinada: fazer a ponte entre o governo e os empresários, alimentar as estruturas de poder [as campanhas]. Era a prioridade de Antonio Palocci", afirmou Delcídio aos procuradores da República no Paraná.
Palocci está preso desde o dia 26 de setembro e já foi denunciado pelo MPF como o principal contato da Odebrecht para obter contratos com a administração pública federal. Ele é acusado de receber R$ 128 milhões em propinas do Grupo Odebrecht entre 2008 e 2013 e destinar os recursos para si, para o PT e a políticos. Os advogados do ex-ministro negam as acusações.
O delator afirmou que Palocci ganhou muita projeção no PT e também nos partidos aliados a partir de 2001, quando foi coordenador da campanha presidencial de Lula. Desde então, segundo Delcídio, Palocci passou a manter maior contato com o empresariado e assumiu função que definiu como de "alto protagonismo".
Ainda de acordo com Delcídio, com a eleição de Lula, em 2002, Palocci foi nomeado para o Ministério da Fazenda de Lula e "consolidou sua posição forte, não apenas no partido mas também com os empresários".
Delcídio disse também que Palocci contava com "interlocutores qualificados e 'certeiros', sabendo ao certo quem eram as pessoas com quem deveria discutir cada assunto".
Em nota, a assessoria de Antonio Palocci informou que a defesa do ex-ministro considera a acusação "monstruosa".
"A defesa de Antonio Palocci reitera ser esta uma acusação monstruosa, absolutamente divorciada de qualquer elemento indiciário arrecadado nos autos. E acrescenta que no Brasil de hoje a delação premiada se transformou em moeda de troca para se chegar à liberdade".
Ainda segundo o comunicado dos advogados do ex-ministro, "por ocasião da delação premiada do ex-senador Delcídio do Amaral, o ex-ministro Antonio Palocci já se manifestara atribuindo às declarações o caráter de invencionices e inverdades creditadas ao desespero do delator para se ver livre do constrangimento e do sofrimento a ele imposto naquele momento".
Delcídio foi preso em novembro de 2015, quando era senador. Foi acusado de tentar comprar o silêncio do ex-diretor de Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró.
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