O mapa eleitoral que sai agora das urnas não poderá ser usado à risca nas eleições de 2018, mas é valioso como indicador de tendências. Era esperado que a gestão ruinosa de um governo de esquerda, em um processo tão desgastante como o do impeachment e das investigações da Lava-Jato, movesse amplamente o pêndulo para a centro-direita. A derrota do PT nas eleições municipais foi ampla, geral e quase irrestrita. Nos cinturões operários de São Paulo e tradicional bastião petista, o partido só elegeu um prefeito, em Franco da Rocha. O PSDB ganhou força e poder de gestão sobre 23,4% da população brasileira, sua melhor marca até hoje. O PMDB fez um papelão na capital do Rio, mas não na Baixada Fluminense e venceu em mais cidades acima de 200 mil habitantes do que em 2012.
O xadrez eleitoral é muito mais complexo na disputa presidencial. Como os ventos sopram para a centro-direita, PSDB e PMDB podem tentar, juntos ou separados, a conquista do Palácio do Planalto. O candidato mais bem posicionado no momento é o governador Geraldo Alckmin, que bancou, contra os velhos caciques tucanos, o lance decisivo: ganhar uma eleição em primeiro turno com João Doria. Aécio Neves, seu rival na legenda, perdeu pela segunda vez em dois anos em sua base eleitoral, Minas Gerais - no pleito presidencial contra Dilma e na disputa em Belo Horizonte para um candidato do minúsculo PHS. Alckmin é também o tucano que mantém mais distanciamento do governo Temer.
Alckmin não tem, porém, uma base de apoio nos Estados, nem grande carisma, mas é um político que passou longe da Lava-Jato, o que não é pouco nos dias de hoje e é vital para seu futuro político. A estrutura montada em São Paulo tem dificuldades para se replicar nacionalmente, a começar pelo apoio do PSB, que elegeu prefeitos em 415 cidades e governará 11,8 milhões de pessoas. A aliança paulista é mais à direita do que seria aceita pela legenda em outros cantos do país.
Os tucanos tendem a buscar a força eleitoral do PMDB, que tem de definir se terá candidato próprio. O primeiro ensaio do Planalto de buscar um alinhamento com o PSD de Gilberto Kassab, em São Paulo, deu muito errado, com a candidata Marta Suplicy amargando o quarto lugar.
Dois fatores moldarão a decisão peemedebista - a economia e os desdobramentos da Lava-Jato. As suspeitas em Curitiba apontam para boa parte da cúpula do PMDB e do núcleo palaciano. Expoentes regionais, como Eduardo Paes, emagreceram com a vitória na segunda maior cidade do país de Marcelo Crivella (PRB). A atroz crise financeira do Estado é obra dos caciques fluminenses da legenda. Mais importante, o estado da economia definirá o raio de ação dos principais partidos. Um forte crescimento em 2018 pode abrir um caminho ao candidato própria. As duas coisas parecem improváveis.
Com a economia andando bem, a centro-direita não tende a se dispersar e pode reeditar ampla frente em torno de PSDB-PMDB, arrastando atrás de si as legendas do "centrão". Resta ver se a esquerda fará o mesmo. Não há tempo hábil para que o PT reverta seu atual desprestígio. Logo a ideia que circula de uma coligação das esquerdas tem campo para prosperar. A possibilidade de Lula não poder concorrer move os cálculos nessa mesma direção. Com a ruína do PT, porém, outros partidos querem capitanear essa frente. Ciro Gomes e o PDT ambicionam papel de catalisador para uma aliança que poderia atrair, por exemplo, o PSB do Nordeste, o PCdoB, mas dificilmente o Psol. Objetivamente, uma recuperação econômica muito lenta abre chances para uma coligação deste tipo.
O quadro de dispersão partidária prejudica um pouco a visibilidade da próxima disputa. Das 390 prefeituras perdidas pelo PT, porém, 315 foram conquistadas por forças da direita e do centro - PMDB, PSDB, PP, PSD e DEM. Os eleitores que migraram seu voto precisarão de bons motivos para votar novamente na esquerda no curto prazo e só uma performance ruim da economia poderia lhes dar um motivo. E a dispersão partidária tem de ser qualificada. De 11 partidos nanicos que participaram de eleições anteriores, todos perderam prefeituras em relação a 2012. As grandes legendas como PMDB, PSDB, PSD, PP, PDT, PR, ao contrário, conquistaram mais cidades. O fim do financiamento privado de campanhas fortalece partidos estruturados. Há espaço, mas é difícil que um candidato competitivo sairá das legendas menores e tentará uma carreira solo.
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