- Folha de S. Paulo
A exemplo da economia, a ciência política não é muito confiável na hora de fazer previsões acuradas sobre o futuro. Não é raro que os caprichos da conjuntura se somem às inconstâncias do eleitor para sabotar os mais belos modelos elaborados pelos especialistas. Ainda assim, exatamente como ocorre com a economia, existem alguns princípios muito gerais que atuam na grande maioria dos pleitos.
O algoritmo mais básico usado pelo eleitor é: se a situação está boa, mantenha o governante e seu partido; se está ruim, puna-os. Isso significa que, sempre que houver uma mudança brusca na economia, deve-se esperar um movimento correspondente na política.
Foi exatamente o que verificamos nestas eleições municipais. Dada a ruína econômica do último biênio, o PT viu o número de prefeituras que controla despencar de 644 para 254 (queda de 61%) e a população que governa ser reduzida de 38 milhões para 5,9 milhões (-84%). Para tornar a punição mais dolorida, boa parte dos eleitores escolheu votar no partido que mais rivalizava o PT, que é o PSDB. Os tucanos viram a população sob suas prefeituras passar de 25,8 milhões para 48,7 milhões, salto de 89%. Curiosamente, os petistas contribuíram bastante para a vitória do oponente, ao ter pintado insistentemente os tucanos como antípodas do PT ao longo dos últimos 13 anos.
Outro algoritmo muito usado por eleitores é: se você estiver insatisfeito com o sistema, flerte com alternativas. Vimos um pouco disso tanto no aumento da fragmentação partidária quanto no discurso de candidatos vitoriosos que se descreveram como não políticos, o que certamente tem a ver com as revelações da Lava Jato.
As interações entre os dois algoritmos—que podemos chamar de Tico e Teco— sugerem que o ambiente político seguirá ainda bastante instável e que a guinada do eleitor para a centro-direita parece ser mais circunstancial do que ideológica.
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