• Derrota do partido nas eleições municipais traz pulverização de espaço antes controlado pela legenda; perda de eleitores governados é de 93%
Daniel Bramatti, Ricardo Galhardo, Rodrigo Burgarelli e Guilherme Duarte - O Estado de S. Paulo
O “espólio” do PT, principal derrotado nas eleições municipais de 2016, foi pulverizado por 25 partidos. Esse é o total de legendas que, a partir de 2017, vai comandar cidades conquistadas por petistas em 2012 e perdidas neste ano.
Nenhum partido teve desempenho muito distante de sua média nacional nas ex-cidades petistas. Em números absolutos, os maiores avanços foram feitos pelo PMDB (106 prefeituras) e PSDB (95). Mas eles também foram os dois maiores vencedores no conjunto de todos os municípios, e sua taxa de sucesso foi similar nas áreas governadas pelo PT ou não.
Há quatro anos, candidatos petistas venceram eleições em 638 municípios – o melhor resultado da história do partido. Dessas cidades, o partido só conseguirá se manter no poder em 109, ou 17%. No caso do PSDB, essa taxa de continuidade será o dobro (34%). Os tucanos venceram em 695 municípios há quatro anos, e conseguiram repetir a dose em 235 delas.
O recuo petista fica ainda mais evidente quando se analisa o tamanho do eleitorado que o partido perderá no conjunto das 638 cidades. De um total de 28,7 milhões de eleitores, o PT só continuará governando 1,9 milhão – uma perda de 93%.
Uma em cada dez ex-cidades petistas foi conquistada por um partido “nanico”, de baixa expressão eleitoral. Enquadram-se nessa categoria as legendas que, na eleição de 2014, obtiveram menos de 2% dos votos para a Câmara dos Deputados, em termos nacionais e em pelo menos metade das unidades da Federação.
Balanço. A derrota do PT nas sete cidades em que disputou o segundo turno, no domingo, 30, foi encarada por líderes do partido como algo muito grave, mas já esperado. Em conversas mantidas nesta segunda-feira, 31, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o quadro não mudou em relação ao primeiro turno. Segundo interlocutores de Lula, o ex-presidente tem dito que o fracasso histórico do PT nas urnas reforça, juntamente com outros fatores, a necessidade urgente de uma reformulação radical do partido.
Palavras como “catástrofe” e “fundo do poço” foram usadas por petistas, em caráter reservado, para descrever a situação eleitoral da legenda. No discurso oficial, entretanto, dirigentes preferem encarar a derrota como um fato normal.
“Não aconteceu nada muito diferente daquilo que a gente imaginava”, disse o secretário nacional de Organização, Florisvaldo Souza, responsável por fazer os balanços pré-eleitorais do partido. “Foi ruim.”
Segundo ele, o alto índice de ausências e de votos em branco e nulos registrado em diversas cidades é fruto da “criminalização” da qual o PT seria vítima. “O PT é vítima de um golpe, de um longo processo de criminalização. Por isso houve tanta abstenção. As pessoas perdem a fé na política”, disse Florisvaldo, da corrente majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB).
Já o ex-ministro Miguel Rossetto, da Mensagem ao Partido, principal corrente da esquerda petista, citou o Marquês de Pombal, sobre o terremoto que devastou Lisboa em 1755, para resumir a situação: “Agora é enterrar os mortos, cuidar dos vivos e tocar a vida.”
Na avaliação de interlocutores de Lula, o desastre eleitoral reforça a posição da esquerda petista, defendida também pelo ex-presidente, de que a nova direção e a reformulação programática do PT devem ser feitas por meio de um congresso de delegados. A CNB é a favor de um processo de eleições diretas (PED), conforme manda o estatuto petista.
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