- O Globo
Saindo das eleições municipais como o que mais cresceu em número de eleitores entre os dez maiores partidos, conquistando 3,8 milhões de votos para prefeito no 1º turno, um crescimento de 51% em relação a 2012, o Partido Republicano Brasileiro (PRB) viu seu projeto político nacional reforçado pela vitória do bispo licenciado Marcelo Crivella para a prefeitura do Rio de Janeiro.
Em outubro de 2005, a criação do Partido Municipalista Renovador (PMR), hoje Partido Republicano Brasileiro (PRB), foi fruto de manobra do então presidente Lula para se aproximar dos evangélicos através do vice José Alencar, um dos fundadores do partido.
O partido foi criado pelos evangélicos da Igreja Universal do Reino de Deus para substituir a marca PL, manchada pelo escândalo do mensalão que estourara naquele ano. Em poucos dias conseguiram recolher nas igrejas espalhadas pelo país milhares de assinaturas para constituir um partido político, meta que outros, como o PSOL e a Rede, levaram quase um ano para atingir pelos métodos tradicionais.
O projeto era o controle político da chamada “nova classe média”, mas questões ideológicas acabaram separando o PRB do petismo, embora não a ponto de impedir que Crivella fosse ministro da Pesca no governo Dilma. A preocupação do PT com a ascendência da Universal foi explicitada pelo ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência e olhos e ouvidos de Lula na administração Dilma, que chamou para o centro da luta política os evangélicos, com quem disse que as esquerdas deveriam disputar ideologicamente a massa dos emergentes.
Gilberto Carvalho chegou a falar na criação de um sistema de comunicação de massas para transmitir a esses novos consumidores as ideias do governo. Os evangélicos reagiram com vigor, e o ministro foi chamado até mesmo de “safado” pelo senador Magno Malta, líder de um partido aliado do governo.
O ex-ministro Mangabeira Unger, professor de Harvard, foi um dos formuladores do projeto. Ele achava “decisivo” para qualquer orientação transformadora do Brasil o surgimento de uma nova classe média, e uma nova cultura de emergentes, “esse pessoal que estuda à noite, luta para abrir um negócio, ser profissional independente, que está construindo uma nova cultura de autoajuda e de iniciativa, e está no comando do imaginário nacional”.
Dentro desse contexto, ele considerava que o movimento evangélico precisava ser visto “como um elemento entre muitos dessa nova base social. São dezenas de milhões de brasileiros organizados”. Mangabeira desenvolveu a tese de que evangélicos brasileiros têm semelhança com pioneiros que fundaram os EUA e tinham o espírito empreendedor que faria a diferença para o desenvolvimento do Brasil.
Embora tenham se distanciado do petismo a ponto de votarem pelo impeachment da presidente Dilma, e o presidente do partido, também pastor licenciado Marcos Pereira, ser hoje ministro da Indústria e Comércio do presidente Michel Temer, o projeto político continuou o mesmo.
Assim como Mangabeira Unger foi seu fundador e depois se afastou, uma boa leva de intelectuais da esquerda aderiu ao projeto do PRB na disputa pelo contingente de evangélicos cada vez maior no país. José de Alencar morreu, Lula está às voltas com a Lava-Jato, Dilma foi destituída, e o PRB da Igreja Universal segue firme no seu projeto político, mesmo que a “nova classe média” esteja em declínio com a crise econômica que pode fazer recuar em 11% o rendimento per capita dos brasileiros nos últimos quatro anos, se não houver crescimento econômico em 2017.
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