O Banco Central vai intensificar o corte dos juros a partir de janeiro, diante do cenário desolador da economia. Os membros do Comitê de Política Monetária, na mais recente reunião, se concentraram na discussão da intensidade dos cortes e resolveram esperar até janeiro para ampliá-la, entre outros motivos porque até lá será possível se ter uma ideia dos efeitos de mais um aumento dos juros nos Estados Unidos, dado como certo após reunião do Federal Reserve na semana que vem.
Os péssimos dados do PIB do terceiro trimestre, divulgados no mesmo dia em que o BC decidiu reduzir em 0,25 ponto percentual a taxa Selic, corroboraram a percepção do BC, com base em dados anteriores, de que aumentou "a probabilidade de que a retomada da atividade econômica seja mais demorada e gradual que a antecipada previamente". A modesta redução foi encarada como um conservadorismo excessivo da autoridade monetária, mas a ata da reunião deixa claro que o que se discutiu ali foi até onde o BC pode caminhar com segurança no ciclo de distensão monetária. Desde outubro, vários fatores colaboraram para ampliar a confiança do BC na "flexibilização".
Além da frustrada recuperação da economia, que vai demorar, o Copom constatou a existência de "sinais de desinflação mais difundida" e reversão da alta do preço de alimentos. Essa percepção foi compartilhada pelo mercado, cuja perspectiva de trajetória para os preços, retratada no boletim Focus, aproximou-se mais daquela traçada pela autoridade monetária, pelo menos para 2017, quando o BC quer atingir a meta de 4,5%. O cenário de referência do BC, que considera câmbio a R$ 3,40 e Selic a 14%, e o de mercado, com taxas distintas de câmbio e juro a 10,5% no fim de 2017 convergiram mais: 4,4% e 4,7%.
Em 2016, ambos projetam 6,6%, depois de uma inflação de 10,67% no ano passado. Isto é, após um período de taxas de juros extravagantes, o ritmo de elevação de preços voltou a se aproximar do teto da banda, o que ainda não é o ideal, mas sinaliza que a persistência do Copom deu frutos. Resta, porém, uma discrepância entre os dois cenários em 2018. O do BC aponta inflação de 3,6%, logo com espaço amplo para redução dos juros, enquanto que o do mercado prevê 4,6%, perto do centro da meta, sem muita folga adicional.
O BC condicionou, o que é esperado, os próximos passos da política monetária à continuidade da desinflação, "que pode vir a ser mais intensa que a refletida nas expectativas de inflação". Há riscos para esse processo, embora eles sejam agora muito menores do que há seis meses. Na margem, observou o Copom, os preços pararam de cair em itens do IPCA mais sensíveis à política monetária, advertência já constante da ata da reunião de outubro. A desaceleração da economia e a piora do mercado de trabalho, porém, devem contrabalançar esse fato. Além disso, apesar de o ajuste fiscal ser um processo longo e cheio de incertezas, a PEC dos gastos está a um passo de ser aprovada pelo Senado.
O Copom está de olho nos preços administrados, onde há riscos e um fato novo: a variação mensal dos preços dos combustíveis, algo que não se vê no país há mais de uma década. A variação dos combustíveis e das tarifas de energia podem pressionar a inflação, mas, desde que ela esteja ancorada, como agora parece estar, não representaria um grande problema.
Por fim, resta a possibilidade de fim do "interregno benigno" no cenário externo. Há quem argumente que o fato de uma subida mais acelerada dos juros nos EUA inibiria a ação do BC para baixar os juros domésticos, pelo efeito da desvalorização cambial sobre os preços e do diferencial das taxas - menor - que estimularia saída de capitais e traria mais pressão sobre o real. O Copom, porém, se sente mais confortável a respeito. Em primeiro lugar, esses efeitos tendem a ser "mitigados" pela elevado grau de ociosidade na economia e, de novo, pela expectativa de inflação, agora mais ancorada. Além disso, o BC apontou que há fatores que caminham na direção contrária, como valorização das commodities e dos termos de troca.
Assim, também quanto a esse importante fator de risco, ficou dito que "não há relação direta entre cenário externo e condução da política monetária". Isto é: juros em alta nos EUA, desde que em um processo ordenado, não dissuadirão o BC de reduzir a Selic, caso os indicadores domésticos o permitam.
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