A cidade mal fez as contas do réveillon e já pensa no carnaval. Rede hoteleira, restaurantes, comércio e demais setores do turismo projetam quanto poderão faturar com visitantes brasileiros e estrangeiros durante os quatro dias da festa. Justificável, porque, se o Brasil, e o Estado do Rio especialmente, enfrenta crise fiscal, desemprego e recessão gravíssimos, parte do alívio de que a economia local precisa pode — e deve — vir de fora.
E os números da passagem de ano permitem algum otimismo. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, mais turistas vieram ao Rio para o réveillon do que em 2015. Foram 865 mil, movimentando US$ 691 milhões (cálculo da Riotur). Os dados de todo o Brasil — nos quais o Rio tem grande relevância — também trazem boa notícia, mas, ao mesmo tempo, uma advertência: houve recorde de visitantes estrangeiros no ano da Olimpíada (6,6 milhões, com injeção de US$ 6,2 bilhões na economia), mas, em 2015, o país registrara queda de 1,9%, mesmo depois de ter sediado a Copa do Mundo em 2014.
Ou seja, o desafio é não só atrair o visitante para megaeventos, mas sim manter um alto fluxo todos os meses de todos os anos.
Os responsáveis pelo turismo da cidade precisam assumir cada vez mais essa tarefa, para reduzir a dependência ao réveillon, ao carnaval, ao Rock in Rio etc. A cidade (e o Estado) do Rio de Janeiro deve apostar cada vez mais num calendário atraente, que garanta a ocupação dos hotéis e o movimento de bares e restaurantes de janeiro a dezembro. Não é mais possível que o setor se vanglorie de números obtidos em boa medida com alguns poucos grandes eventos.
A vocação do Rio é evidente, e explorá-la em tempos de dramática recessão é necessidade imperiosa e questão estratégica. A Olimpíada e a Paralimpíada foram motivação comum para obras e intervenções em diferentes setores, gerando empregos, mas hoje servem apenas como peça de propaganda.
Da mesma forma, o estado, ao qual a cidade está ligada de forma orgânica, paga muito caro hoje pela opção equivocada de ter atribuído aos royalties a função de fonte de receita irreversível.
Já o turismo é aposta sem erro. A estrutura implantada para a Olimpíada e a Paralimpíada não pode ser desperdiçada. E novos cartõespostais como o Museu do Amanhã e o Boulevard Olímpico só vieram aumentar o potencial carioca. E já houve evolução: de 2009, quando o Rio foi escolhido sede da Olimpíada, a 2014, o número de visitantes estrangeiros aumentou, conforme o gráfico acima, assim como a rede de hotéis. No ano da Copa do Mundo, recebemos mais de 1,8 milhão de turistas.
O Aeroporto Tom Jobim também passou por reformas, com investimento de R$ 2 bilhões, incluindo mais três mil vagas de garagem, 26 pontes de embarque, seis pórticos de raio X, 14 elevadores e 16 escadas rolantes. A área de terminais passou de 280 mil metros quadrados para 416 mil metros quadrados. Já o espaço de pátio das aeronaves aumentou de 500 mil metros quadrados para 760 mil.
Assim como a aposta no turismo não deve se restringir a grandes — mas espaçados — eventos, é preciso atrair todas as nacionalidades. Não só o Rio, como todo o país. Os argentinos respondem por cerca de um terço (2,079 milhões) do total (6,3 milhões) de visitantes estrangeiros no Brasil, em dados de 2015. Uma severa recessão ou mudança de política cambial no país vizinho tem impacto negativo no Brasil.
A estrutura já existe. Não é preciso que o poder público — asfixiado pela crise fiscal — nem a iniciativa privada façam pesados investimentos. E algumas apostas que a cidade deverá fazer são óbvias; até pelo potencial que os Jogos deixaram evidente. É o caso do turismo esportivo, que tem na cidade um cenário adequado não só pelas paisagens mostradas pelas TVs do mundo inteiro. São favoráveis também a experiência deixada pelas competições internacionais e a rede hoteleira, ampliada de 30 mil para 50 mil leitos de 2010 para cá. Tamanho investimento só fará sentido com altas — e permanentes — taxas de ocupação.
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