Daniela Lima | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) costuma usar uma imagem futebolística para rebater o clima de favoritismo que cerca sua campanha para a reeleição à presidência da Câmara. Diz que torce pelo Botafogo e gosta de ver tudo "preto no branco", referindo-se às cores do time e à metáfora que significa clareza.
Ele ainda não oficializou a candidatura, mas trabalha diariamente para vencer já no primeiro turno, marcado para o dia 2. Acha que terá o apoio de oito siglas ou mais.
Estrategista, começou a traçar o plano para sua recondução muito antes de a disputa se tornar o principal assunto na pauta da Câmara.
Maia se elegeu para um mandato-tampão após a renúncia do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Naquele momento, fez três movimentos decisivos: apresentou-se como um nome que não criaria problemas para o governo de Michel Temer (PMDB), amarrou partidos da antiga oposição (PSDB, PSB e DEM) à sua candidatura e acenou ao PT e ao PC do B que não cerraria espaços a eles.
Eleito, ampliou seu arco de aliados. Inicialmente muito vinculado a Moreira Franco (PMDB), figura-chave no governo Temer, Maia fez questão de expandir seus contatos no partido. Passou a atuar de maneira afinada com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), a quem visitou no último domingo (8) em Maceió. Além da aliança com o presidente do Senado, unificou a bancada do PMDB em torno de seu nome.
Maia havia selado o apoio do PSDB à sua eleição para o mandato-tampão firmando o compromisso de que apoiaria um tucano como seu sucessor. O acordo foi quebrado com a anuência da cúpula do PSDB, com base em um cálculo pragmático: um tucano não alcançaria o número de votos de Maia.
APOIO TUCANO
Nesse cenário, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), apoiou a sua candidatura desde que conseguisse tornar a reeleição viável jurídica e politicamente. De lá para cá, aliados do presidente da Câmara difundiram uma série de pareceres defendendo a legitimidade de sua reeleição.
A Constituição proíbe a recondução do presidente em uma mesma legislatura, mas os defensores de Maia dizem que a regra não se aplica a ele, porque foi eleito para um mandato tampão, de seis meses.
Os adversários levaram a questão ao Supremo, mas Maia tem dado de ombros à polêmica. Diz que enquanto os rivais chamam a Justiça para intervir na Câmara, ele fala sobre as questões de interesse de deputados e do governo.
"Oposição ao governo que sou, tenho que reconhecer que o Maia fez um bom mandato", diz o deputado Silvio Costa (PT do B-PE), um dos mais aguerridos críticos do impeachment de Dilma Rousseff e do governo Temer.
"Ele assumiu a Casa em um momento delicado, pós-Eduardo Cunha, que rasgava o regimento e atropelava todo mundo para conseguir o que queria. Maia fez a agenda andar sem atropelar a Constituição, o regimento, dialogando com a oposição", finaliza.
Silvio Costa diz que votará em André Figueiredo (PDT-CE) na primeira rodada. "Se houver segundo turno, o jogo está zerado", completa, indicando que vai de Maia.
Maia tem interlocução privilegiada com setores do PC do B e seus aliados acreditam que, no próprio PT, ele teria 35 votos. Nesse cenário, Figueiredo foi aconselhado a ficar atento para não sair da disputa menor do que entrou.
O mesmo fantasma ronda as pretensões de Rogério Rosso (PSD-DF). O deputado disputou com Maia o mandato tampão em 2016 e perdeu no segundo turno. Lançou-se novamente para a presidência, mas agora não tem nem o apoio majoritário de sua legenda. Líderes do PSD já indicaram a Maia e ao Planalto que apoiarão sua reeleição.
O quarto elemento no tabuleiro da Câmara é o deputado Jovair Arantes (PTB-GO). Integrante do "centrão", grupo de partidos médios que reúne 250 deputados e tem forte influência sobre o chamado baixo clero, promete ir até o fim na disputa com Maia.
Para o petebista, a candidatura de Rosso é um empecilho extra. O PSD integra o "centrão", o que faz com que Jovair e Rosso acabem disputando votos dentro do mesmo eleitorado.
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